sábado, 5 de outubro de 2024

"VIAGEM PELOTEMPO", por Joaquim Pinto (18)

 FREAMUNDE/PAÇOS - "DERBYS ETERNOS" (24)


ÉPOCA  99/00





O panfleto "Não deixes que brinquem com os nossos sentimentos mais profundos", exigindo a troca do patrocínio "Capital do Móvel" por "Feira dos Capões", nas camisolas do clube, despoletou um conflito entre filhos da mesma terra.
Tudo, dizia-se, por questiúnculas políticas, toldadas por "guerras" de alecrim e manjerona que extravassaram para o futebol.
A partir de então a harmonia, a fraternidade, a união existente no seio da família freamundense caiu, irremediavelmente, por terra. A Vila... o Clube... as Associações, tudo ficou dividido. Amigos, do coração, desavindos até hoje.
É imperioso acabar, de uma vez por todas - será possível? -, com a paz podre em que a cidade se encontra mergulhada.
Com o plantel reformulado, ainda sob o comando de Sá Pereira, caras novas bem cotadas, foram novidades na apresentação: Eusébio (ex-Beira Mar), Armando I e Gabriel (ex-Desp. Aves) e Armando II (ex-Moreirense).
Da prospecção feita por Sá Pereira, no Brasil, rubricaram contrato Everton (ex-Vitória de Santo Antão) e Erivan (ex-Surunbim).
Com a tesouraria desafogada - Ricardo Fernandes e Erivan tinham sido vendidos ao Sporting e Boavista, respectivamente -, os responsáveis "azuis" garantiram a esmo, ao longo da época, o concurso de jogadores como Ricardo Silva (ex-Boavista), Glauco (ex-Sampaio Guerra-Maranhão, Brasil), Camberra (ex-Leça), Gilson (ex-Penafiel) e Jaiminho (ex-Gil Vicente).
"Amuados", tranferiram-se para o Trofense de Jorge Regadas, Bock, Barbosa e Terinho.
P'ró campeonato da 2ª Liga, foi chegar, ver e ... golear (5-0 ao Imortal).
Expectativas acrescidas para Coimbra. Fundamentadas, pelos vistos! Ricardo Fernandes, com dois soberbos golos, na cobrança de livres directos, deu empate aos "azuis". Já havia quem fizesse "contas"! Afinal, os sonhos servem para libertar os cérebros
Depois... Bom, depois aí tínhamos o sempre apetecível "derby" nocturno, Paços de Ferreira/Freamunde, de grande intensidade, emotivo, que concitava as atenções.
Perante uma assistência a rondar as 4.000 pessoas, o empate, a uma bola, foi o justo prémio para tanta determinação.

Ficha do jogo:

Paços de Ferreira - 1/Freamunde - 1

Árbitro: António Costa (Setúbal)

Paços de Ferreira: Pedro, Chico Fonseca, Filipe Anunciação, Adalberto e Paulito (Nini, 71'); Gervino, Marco Paulo, Luís Cláudio e Reisinho (Zé Manel, 64'); Carlos Carneiro e Everaldo (Luís, 81')
Treinador: Henrique Calisto





Freamunde: Pinho, Gabriel, Filipe (Armando, 55'), Monteiro e Erivan; Eusébio (Barbosa, 59'), Calica e Everton; Armando II (Viúla, 70'). Bock e Denilson.
Treinador Sá Pereira

Marcadores: Armando II (7') e Carlos Carneiro (15').

Cartão vermelho, por acumulação: Gabriel (65')

Tudo parecia um mar de rosas, mas... de repente, três desaires consecutivos obrigaram o departamento de futebol a mexer na estrutura. Naturalmente, Sá Pereira foi rendido por Carvalhal.

XXX

Segunda volta. Quem esperava que o "derby" concelhio não seria apimentado, enganou-se redondamente.
Não, não teve nada a ver com as provocações descabidas e sem sentido de outrora... Estes encontros eram excelentes pretextos para o exercício de uma sadia rivalidade, dentro e fora do campo, que vigorava, felizmente.
Não houve, foi, respeito pelo jogo, sendo os "capões" tratados como frangos.
Uma prestação horrenda de Bruno, sisudo árbitro de Setúbal, "enlutou" um jogo entre rivais que fez transbordar o estádio.
O desafio decorreu num ambiente de "Paixão" intensa mas teve lamentável fim.
Primeiro, porque, sem nada que o justificasse, puxou pelo "vermelho" e mostrou-o ao defensor local, Armando - era o rastilho de pólvora para a bomba que rebentaria não muito depois.
Quando tudo parecia serenado, o "juíz" inventou uma grande penalidade contra o Freamunde, muito para lá do tempo de compensação concedido.
Os pacenses não se fizeram rogados, aproveitaram a "benesse", marcaram e... ganharam.
Foi o bom e o bonito! Houve invasão de campo, como consequência dos desvarios, de toda a excitação provocada pelo trio de arbitragem que saiu do campo escoltado pelos agentes da polícia e debaixo de um enorme coro de assobios e insultos da pior espécie.
Chegou a temer-se o pior. O futebol tinha deixado uma imagem indigna.
Já a noite fazia aparição - o árbitro esteve retido duas horas no balneário - e ainda se ouviam comentários de indignação, gritos de revolta dos "injustiçados".

Ficha do jogo:

Freamunde - 0/Paços de Ferreira - 1

Assistência: 5.000 pessoas

Árbitro: Bruno Paixão (Setúbal)

Freamunde: Pinho, Calica, Armando I, Filipe e Glauco (Ricardo Silva, 60'); Everton, Eusébio e Camberra; Jaiminho (Denilson, 77'), Armando II (Gilson, 86') e Ricardo Fernandes.
Treinador: Carvalhal






Paços de Ferreira: Pedro, Marco Paulo, João Armando, Gervino e Paulito; Filipe Anunciação, Luís Cláudio e Rafael (Reisinho, 55'); Everaldo, Paulo Vida (Carlos Carneiro, 74') e Zé Manel (Rui Miguel, 89').
Treinador: José Mota

Marcador: Rui Miguel (95', de g.p.)

Cartão vermelho directo: Armando I (67')
Cartão vermelho por acumulação: Filipe (95').

XXX

RESUMO DOS 24 "DERBYS" OFICIAIS ENTRE FREAMUNDE E PAÇOS DE FERREIRA:

FREAMUNDE:
Vitórias: 13
Empates: 6
Derrotas: 5

Golos marcados:
A favor: 40
Contra: 21

Marcadores:
João Taipa            - 9
Humberto             - 4
Abel                       - 4
Barbosa                 - 2
Paulo Fernando    - 2
João Batista "Cherina", José Maria "da Couta", José Maria "do Talho", João, Ernesto, Venâncio, Couto, Andrade, Paulo Antunes, Serginho, Luís Filipe, Roberto, Marcos António, Lakota, Bráulio, Pedro Barbosa, Vasco, Ramon e ArmandoII - todos com 1 golo.

Será que, num futuro próximo, Freamunde e Paços se voltam a encontrar?
A "vida" dá muitas voltas.

segunda-feira, 30 de setembro de 2024

"VIAGEM PELO TEMPO", por Joaquim Pinto (13)

FREAMUNDE/PAÇOS - "DERBYS ETERNOS" (14)

ÉPOCA 86/87





Armando Teles, o presidente da subida à 2ª Divisão Nacional, numa atitude deveras surpreendente - posicionou-se no último posto do executivo -, passou a "pasta" ao jovem industrial Manuel da Costa Ferreira Dias. O "Manelzinho da Seroa", como carinhosamente era tratado.
Mas... haveria de estoirar como um petardo a notícia que dava conta do afastamento do técnico Abílio Santana, substituído por Joaquim Teixeira, anterior "manager" do Ermesinde.
No campeonato, ao fim de várias jornadas, o Freamunde mantinha-se desastradamente no fundo da tabela. Era preciso evitar o pior, mudar o rumo. Seria na "Mata Real", frente ao Paços?
O estádio encontrava-se pejado de milhares de espectadores. O jogo entre velhos rivais, carentes de uma melhor posição, proporcionou um vencedor natural. O Freamunde afundou-se logo na primeira hora. Os seus jogadores pareciam vergados de cansaço, anestesiados, apáticos.
Louve-se a lição de bairrismo e desportivismo, conhecendo-se a animosidade existente.
Mais do que um "derby", este encontro ficou marcado pela primeira vitória dos pacenses sobre os freamundenses, ao longo de todo o seu historial, em jogos de campeonato. O primeiro "feito" tinha acontecido na época 77/78, mas em jogo de "Taça".

Ficha do encontro:

Paços de Ferreira - 3/Freamunde - 1

Árbitro: Ramiro Santiago (Coimbra)

Paços de Ferreira: José Carlos, Monteiro, Miguel. Bino e Vassalo; Malheiro (Eugénio, 72), Quim e João Mário; Barriga, Patena e Meireles (Silva, 76).
Treinador: Prof. António Bessa

Freamunde: Alberto, Carvalho (Dodat, 80), Américo, José Augusto e Domingos Santos (Toni, 65); Mário, Jorge Regadas e Vilaça; Pirata, Paulo Antunes e Filipe.
Treinador: Joaquim Teixeira

Marcadores: Patena (9), Miguel (39), Paulo Antunes (42) e João Mário (75).




Face aos maus resultados o técnico Joaquim Teixeira rescindiu o seu contrato com o Sport Clube de Freamunde, sendo substituído interinamente pelo seu adjunto Bites e pelo jogador Palheiras. Não dava mesmo para mais. estavam esgotados todos os argumentos. No executivo também houve "cambalhota". Armando Teles, de 14º vogal, passou para a liderança.


XXX


António de Jesus, o "feiticeiro", surgiu como o último recurso para a salvação.
A verdade é que as vitórias, umas atrás das outras, mudaram completamente o panorama.
Em pior situação se encontravam os nossos "amiguinhos" que visitavam o "Carvalhal" na antepenúltima jornada. Se perdessem, desciam.
Duas horas antes do início da peleja já o campo se encontrava repleto, não se descortinando uma nesga de terreno. O ambiente era escaldante. Imensos freamundenses, radicados em vários pontos do país, marcaram presença, contribuindo com o seu apoio. A rádio local "Inovassom", com uma vasta equipa de reportagem, transmitia directa e integralmente as incidências da partida.

Ficha do jogo:

Freamunde - 1/Paços de Ferreira - 0

Árbitro: Francisco Gonçalo (Braga)

Freamunde: Reis, Carvalho, Bráulio, Américo e Domingos Santos; Mário, Jorge Regadas e Serginho; Luís Filipe, Dodat e Pirata (José Augusto).
Treinador: António de Jesus



   Em cima: Domingos Santos, Américo, Bráulio, Pirata, Mário, Reis
    Em baixo: Luís Filipe, Dodat, Jorge Regadas, Carvalho, Serginho


Paços de Ferreira: José Carlos, Afonso, Bino, Miguel e Vassalo (Patena); Quim, Malheiro (Toraca) e joão Mário; Meireles, Barriga e Jorge.
Treinador: Celestino Rocha

Marcador: Serginho (42)





 
Sofria-se a bom sofrer dentro e fora das quatro linhas. A disputa não tinha exuberância. Os lances de perigo eram quase nulos, recolhendo-se a multidão a um comedido silêncio. Os dianteiros da casa não atinavam com a baliza, levando os nervos dos adeptos próximo da ruptura.
De repente, tudo se transformou. Aos quarenta e dois minutos, Serginho acorreu a um pontapé de canto, marcado na direita do ataque por Jorge Regadas, e anichou a bola no fundo da baliza pacense. Enorme explosão de alegria rebentou. Afinaram-se as gargantas e agitaram-se de novo as bandeiras.
A segunda parte nada trouxe de novo. Os pacenses baixaram, nitidamente, os braços. Os minutos, no entanto, demoraram uma eternidade a passar sem o golo da confirmação. Que não surgiu. 1-0 foi o resultado final.



Foi grande a alegria entre os freamundenses que invadiram o velhinho "Carvalhal" - "melhorado" com bancada de estrutura metálica, superior ampliada com alguns degraus e construção de posto médico e gabinete de apoio ao departamento de futebol -, palco de tantas lutas mas com a "morte" anunciada.
Do "outro lado" os semblantes estavam carregados. Vivia-se o espectro da descida. Tudo parecia um autêntico "vale de lágrimas", choros convulsivos pela frustração de um longo trabalho, traído na ponta final. É assim a vida!  











  

domingo, 29 de setembro de 2024

"VIAGEM PELO TEMPO", por Joaquim Pinto (15)

 FREAMUNDE/PAÇOS - "DERBYS ETERNOS" (18)


ÉPOCA 88/89





Foi em estado de graça que o Freamunde se apresentou.
Ao "leme" continuava o timoneiro Jorge Regadas - agora coadjuvado por Júlio "Guerra" - , que avalizou, inicialmente, onze contratações, com reflexos importantes na equipa de futebol: Cordas (ex-Marialvas), Bráulio (ex-Elvas), Carlitos (ex-Maia), Lakota (ex-Tirsense), Avelino (ex-Ermesinde), Marcos António (ex-Paços de Ferreira), Abel (ex-Vieira), Patena (ex-Vizela), Lawden (ex-Sandinenses), Paulo Fernando e Zé Rodas (ex-União Lamas).
Por capricho do sorteio coube ao nosso representante visitar Paredes na jornada inaugural (derrota por 2-1), recendo, depois, no "Carvalhal", o Paços de Ferreira.
Em dia de grande canícula - casa "pobre" em assistência, apenas mil e quatrocentos pagantes, quase todos "doentinhos" dos "azuis e brancos". Clássicos a uma só cor, sem seguidores do outro lado, nunca, nunca presta -, os "canarinhos" marcaram à frente, logo aos quinze minutos. Podia lá ser!... Os "Capões" não estavam muito habituados à desvantagem, perante os vizinhos. Vai daí, lançaram-se à ofensiva, desenfreada, chegando à igualdade no recomeço da partida, por Marcos António. Sempre ele. E assim terminou o jogo, com uma igualdade no marcador. Foi o que se pôde arranjar.









Ficha do Jogo:

Freamunde - 1/Paços de Ferreira - 1

Árbitro: Cunha Antunes (Braga)

Freamunde: Miguel, Carlitos (Roberto, 45), Bráulio, Américo e Domingos Santos;  Lakota, Avelino e Marcos António (Altino, 83); Luís Filipe, Patena e David.
Treinador: Jorge Regadas

Paços de Ferreira: Caldas, Mota, Mauro, Toni e Adalberto; Nuno (Monteiro, 43), Quim e Fernando Jorge; Amado, Tozé e Vitor Jesus (Batista, 78).
Treinador: António Luz

Marcadores: Fernando Jorge (15) e Marcos António (46)


XXX   

No recomeço da competição, o Paredes provou a vingança dos "azuis", servida com todos os requintes de malvadez. 4-0 cheirava a goleada.
P´ra Paços foi tudo!

Ficha do jogo:

Paços de Ferreira - 0/Freamunde - 1

Árbitro: Sepa Santos (Lisboa)






Paços de Ferreira: Caldas, Monteiro, Martelo, Toni e Mauro; Quim, Celestino e Fernando Jorge (Sousa); Amado, Tozé e Zé Manel (Vitor Jesus).
Treinador: Vitor Oliveira



Em cima: Marcos António, Augusto, Bráulio, Carlitos, Zé Rodas, Cordas
Em baixo: Roberto, Américo, Avelino, Lowden, David

Freamunde: Cordas, Carlitos, Bráulio, Américo e David; Augusto, Avelino e Marcos António; Zé Rodas (Lakota), Roberto (Paulo Fernando) e Lowden.
Treinador: Jorge Regadas

Marcador: Lakota (70')

Cedo o Freamunde alardeou superioridade. O jogo foi de ascendente lógico dos pupilos de Jorge Regadas, com uma resistência de puro sacrifício do seu antagonista. Até ao golpe fatal, saído, aos setenta minutos, do cutelo de Lakota.
Os pacenses tanto queriam ganhar!...
Como na maioria das vezes tiveram que regressar aos balneários vergados à mágoa do sonho despedaçado.
Os adeptos da casa, esses, limitaram-se a lamentar o seu desgosto com lágrimas à mistura. Afinal, é tudo uma questão de hábito!
O Freamunde acabaria o campeonato com um fantástico e surpreendente segundo posto na geral, logo atrás do campeão Tirsense.

quinta-feira, 26 de setembro de 2024

"VIAGEM PELO TEMPO", por Joaquim Pinto (17)

 FREAMUNDE/PAÇOS - "DERBYS ETERNOS" (22)


ÉPOCA 90/91






Jorge Regadas, surpreendentemente, quebrou o pacto que possuía com Alfredo Barbosa de Bessa - reconduzido na presidência - e mudou-se, com armas e bagagens, para Vila Real.
Depois de alguma indefinação, foi escolhido para liderar o grupo, vindo do Marialvas, Fernando Festas.
No arranque para a temporada 90/91, o Freamunde "refrescou" a equipa. Da formação, "saltaram" Rui Ribeiro, Carlos, Zé "d'Eiriz", Leonel, Aníbal, Rui Pacheco "48" (todos com idade de junior) e Arnaldo.
A aposta no futuro estava ganha.
De fora, entre as novidades, apresentaram-se Mário Fonseca (g.r. ex-Estoril), Sardinha (g.r. ex-Penafiel), Picão (ex-Ovarense), Norberto (ex-Lusitano Évora), Donizetti e Ramon (ex-S.Recife-Brasil), Celso Maciel (ex-U. Leiria), João Pedro (ex-Trofense) e Tiago (ex-F.C. Porto).
A estreia, e  logo em casa, do Freamunde na neófita "Divisão de Honra" foi infeliz. O Leixões venceu por 2-1, resfriando a euforia dos freamundenses.
A rapaziada não baixou os braços e tentou resgatar os pontos perdidos, na "Mata Real".
A expectativa era a rodos, fazendo atraír bastante gente.

Ficha do jogo:

Paços de Ferreira - 3/Freamunde - 2

Árbitro: Alexandre Morgado (Porto)

Paços de Ferreira: Caldas, Monteiro (Radi), Joca, Sérgio Cruz e Mota; Quim, Nuno e Julian; Carvalho (Manuel Borges), Duca e Moreira.
Treinador: Vitor Oliveira

Freamunde: Mário Fonseca, Batista, Orlando, Milhazes e David; Norberto, Pedro Barbosa e Zé Rodas (João Pedro); Paulo Fernando (Américo), Ramon e Luís Filipe.
Treinador: Fernando Festas

Marcadores: Ramon (10), Paulo Fernando (23), Duca (44), Julian (89) e Sérgio Cruz (93).

Não se cumpriu a tradição. Mas esteve quase. O Freamunde perdeu (3-2) de forma pouco convincente - a expulsão, injusta e caricata, de Pedro Barbosa, quando o Freamunde vencia por 2-0, tirou clarividência e verdade ao jogo.
Muito se falou sobre alguns empecilhos lançados no caminho dos "capões" pelo "poder" de Paços.
A verdade é que aconteceram coisas esquisitas. A arbitragem foi escandalosamente caseira, em tudo, desde o critério disciplinar à avaliação das faltas. O "sistema" continuava viciado - não era intenção de corromper ou de pagar um favor, mas, tão só, de agradecer a "gentileza do trato"- sem lisura e transparência de processos e atitudes. Por Freamunde continuavam acasteladas as suspeitas - lançadas depois aos quatro ventos - de que os pacenses tinham ganho devido à eficácia dos seus "jogos de bastidores". Que se moveram bem nos corredores do poder. Outros diziam que os vizinhos foram mais lestos na abordagem ao homem de preto.
Os dirigentes do Freamunde, revoltados e indignados, espingardaram a torto e a direito, logo prometendo que apresentariam protesto do jogo. Dito e feito. A Federação Portuguesa de Futebol recebeu-o, é verdade, mas... fez  tábua rasa da denúncia e lançou-a ao cesto dos papéis. Coitado de quem é pobre.
Considerando indígna a forma como a direcção do Paços, ou parte dela, se comportou, o executivo dos "azuis", pensando representar os justos sentimentos da sua massa adepta, decidiu-se, por unanimidade, proceder ao imediato corte de relações com o "rival". Coisas que o tempo mais tarde curaria.



O Freamunde continuava a perder e o adeus de Festas ao clube não surpreendeu, recaindo a sucessão no brasileiro, de 43 anos, Adelson Alves Vanderley. Enquanto isso, o grupo andou comandado interinamente por Júlio "Guerra".
Do F.C. Porto, por empréstimo, apresentaram-se os brasileiros José Carlos, defesa central, e Edvaldo, extremo esquerdo.
A malapata continuou e nova mudança no comando técnico aconteceu. 
Jorge Regadas, na nostalgia da glória, regressou. Perdoado? Perdoadíssimo, pelos vistos!...


Jorge Regadas



XXX

Adensavam-se as expectativas para o escaldante Freamunde/Paços de Ferreira.
A rivalidade existente e o facto dos "ilustres" visitantes liderarem a tabela, levou ao complexo desportivo uma imensidão de apaniguados.
Alguma "borrasca" na recepção à comitiva amarelo/verde manchou a tarde desportiva. Resquícios dos incidentes vividos na "Mata Real". Para alguns, as contas estavam quites.
A vitória  "azul e branca" - extremamente importante para os objectivos - era também uma questão de orgulho, de convicção e de imagem. Até de honra.
Não foi possível. A equipa não se encontrou, cometeu demasiados erros e nem o golo de Paulo Fernando, marcado através de uma grande penalidade, espicaçou o grupo para a esperada reviravolta. O Paços acabou por vencer por 2-1.

Ficha do jogo:

Freamunde - 1/Paços de Ferreira - 2

Árbitro: Jorge Coroado (Lisboa)



Em cima: Marcos António, Donizetti, Pedro Barbosa, Domingos Santos, Zé Rodas, Sardinha
Em baixo: Carlos, David, Ramon,Paulo Fernando, Batista. 


Freamunde: Sardinha, Picão, Donizetti, Américo (Zé Rodas) e Domingos Santos; Pedro Barbosa, Celso Maciel e Luís Filipe; Marcos António, Paulo Fernando e Rui Pacheco (Ramon).
Treinador: Jorge Regadas






Paços de Ferreira: Caldas, Monteiro, Sérgio Cruz, Adalberto e Mota; Quim, Nuno e Radi (Moreira); Carvalho, Duca (Kasakov) e Julian.
Treinador: Vitor Oliveira

Marcadores: Monteiro (14'), Duca (56') e Paulo Fernando (72' g.p.).

A partir de então houve o pressentimento que este desaire acabaria por ser fatal para o Freamunde. E foi! A descida foi uma triste realidade. 
No campeonato da polémica - o famigerado "caso Famalicão" originou que o leque de equipas participantes aumentasse de dezoito para vinte -, de três passou para sete o número de grupos a despromover. Uma vergonha! O Freamunde, no final, posicionou-se na 15ª posição, daí... 


 




"VIAGEM PELO TEMPO", por Joaquim Pinto (16)

 

FREAMUNDE/PAÇOS - "DERBYS ETERNOS" (20)

ÉPOCA 89/90





O Freamunde regressou do Parque Municipal dos Desportos, em Fafe, palco da jornada inaugural da 2ª Divisão Nacional - Zona Norte, com uma saborosa e justa vitória 1-0), frente a um ex-primodivisionário. Pedro Barbosa, ex- junior do F.C. Porto, reforço sonante para esta época,  foi o autor do solitário golo.
De vento em popa andou a equipa durante várias semanas, somando triunfos atrás de triunfos, fazendo sonhar os seus apaniguados.
Bem posicionados na tabela classificativa, Freamunde e Paços de Ferreira iriam, pela última vez, medir forças no velhinho "Carvalhal" (21 de Janeiro de 1990), cheio como um ovo.
Os locais foram implacáveis, fazendo da velocidade e da técnica as armas da vitória (3-0), que não deixou margem para dúvidas.
Carlos Valente, figura incontornável da arbitragem lusa e internacional, esteve simplesmente impecável.





Ficha do jogo:

Freamunde - 3/Paços Ferreira - 0

Árbitro: Carlos Valente (Setúbal)








  Freamunde: Em cima: Vasco, Bráulio, Paulo Fernando, Marcos António, Pedro              Barbosa, José Nuno Amaro
  Em baixo:Carlitos, Avelino, Luís Filipe, David, Américo

Freamunde: José Nuno Amaro, Carlitos, Bráulio, Américo (Zé Rodas) e David; Pedro Barbosa, Avelino e Paulo Fernando (Lowden); Vasco, Marcos António e Luís Filipe.
Treinador: Jorge Regadas




Paços de Ferreira: Caldas, Mota, Belmiro, Adalberto e Mauro; Quim, Nuno e Monteiro; Marinho (Amado), Spassov e Moreira.
Treinador: Vitor Oliveira

Marcadores: Bráulio (35'), Pedro Barbosa (60') e Vasco (62')
 

 XXX


Com o decorrer da competição, a neófita Divisão de Honra era a meta mínima. Bastava, no final, um lugar entre os seis primeiros. Os freamundenses andavam nas asas do sonho.
A poucas semanas do termo do campeonato, tal desiderato poderia ser uma miragem, caso os atletas do Freamunde não conseguissem colocar em jogo toda a gama dos seus recursos técnicos, complementada com uma melhor saúde física - treinava-se pouco na relva do Complexo Desportivo do Freamunde há pouco inaugurado.
Na antepenúltima jornada o Freamunde visitava o Paços de Ferreira.
Os "azuis" apresentaram-se com uma equipa bastante debilitada devido a inoportunas lesões e às sansões disciplinares de que foram alvo alguns dos seus jogadores mais influentes.
O Estádio da Mata Real estava à cunha.
Os rapazes de Jorge Regadas houveram-se ao seu jeito: de corações escaldados e ânimos fortalecidos, na ânsia de um resultado que fosse, desde logo, a garantia da promoção.
Restava convencer os últimos e inconformados freamundenses.
A equipa superou as expectativas e entusiasmou os seus adeptos. O nulo contentou a todos. A subida estava quase.



Ficha do jogo:

Paços de Ferreira - 0/Freamunde - 0

Árbitro: José Pratas (Évora)

Paços de Ferreira: Soares, Monteiro, Joca, Adalberto e Mota; Quim, Nuno (Rogério) e Manuel Jorge; Carvalho, Spassov e Yulian (Fernando Jorge)
Treinador: Vitor Oliveira

Freamunde: José Nuno, Batista, Américo, Orlando e David; Zé Rodas, Avelino e Lowden; Paulo Fernando (Luís Filipe), Roberto e Arnaldo (Vasco).
Treinador: Jorge Regadas

Com o Famalicão o empate era um resultado que servia. E foi o que aconteceu (0-0).
Noite dentro, acabou tudo nas adegas, com grandes copos e petiscos.

"VIAGEM PELO TEMPO", por Joaquim Pinto (14)

 FREAMUNDE/PAÇOS - "DERBYS" ETERNOS (16)


ÉPOCA 87/88



Armando Teles, cansado, abdicou da presidência, avançando, decidido, para a primeira linha, Vieira da Silva, também ele com rotinas do lugar e larga experiência nos meandros do departamento de futebol.
O anteriormente "desconsiderado" Abílio Santana regressava às lides técnicas, substituindo o "milagreiro" António de Jesus.
A "revolução" estendeu-se por todos os sectores.
A ambição era desmedida mas... sem ser cega.
De "fora" apresentaram-se no "Carvalhal" nada mais nada menos que dezasseis caras novas: os juniores promovidos Orlando e Altino, e as aquisições: Miguel (guarda-redes, ex-Fafe), Quim "Preto" (ex-Gil Vicente), Julinho, Abel e Cãndido (ex-Famalicão), Beto (ex-Chaves), Pio (ex-Penafiel), Quim Alberto e Macedo (ex-Braga), David e Vasco (ex-Ermesinde), José João (ex-Tirsense), Jorge Costa (ex-Boavista) e Amâncio (ex-Roriz, um regresso).
Sem goleador à altura, nos jogos ficavam apenas resquícios de uma boa equipa. Para tudo dar certo eram necessários golos e esses... nem vê-los!
Num périplo pelo nordeste brasileiro, um dito empresário descortinou Roberto. O "brasuca", já entradote na idade, chegou a tiritar de frio. Roberto revelou-se um ponta de lança raçudo, muito combativo e oportuno na hora de remate.
A aposta desportiva, feita no "escuro", foi plenamente ganha.
Chegava, entretanto, o momento do confronto com o Paços, na parte final da primeira volta.
O encontro, recheado de ingredientes - um "derby" é sempre um "derby" - teve a presenciá-lo uma imensidão de assistentes, não obstante o tempo se apresentar pouco convidativo. Estávamos no Inverno (24 de Janeiro de 1988).
O jogo foi correcto - a intolerância, o desvario, deram lugar a uma saudável rivalidade -, vivido de forma intensa e emotiva. Apenas o derrube da rede de vedação do lado do peão, por obra e graça de alguns "tresloucados" canarinhos, ensombrou o ambiente.
Os "azuis" apresentaram-se sempre mais determinados, mais acutilantes, e nem a grande penalidade desperdiçada por Jorge Regadas esmoreceu o grupo.
Luís Filipe, aos sessenta e três minutos, foi o autor do golinho que decidiu a partida.
Os pacenses foram, uma vez mais, obrigados a curvarem-se, a render vénias, a uma pequena "grande" equipa de futebol.





Freamunde - 1/Paços de Ferreira - 0

Ficha do jogo:

Freamunde: Reis, Julinho, Jorge Costa, Américo e Domingos Santos; Mário, Jorge Regadas, Serginho e Quim Alberto (José João); Roberto (Cândido) e Luís Filipe.
Trenador: Abílio Santana

Paços de Ferreira: João Manuel, Monteiro, Bino, Albino e Rodolfo Coutinho; Ronaldo, Fernando Jorge (Luís Mário) e Augusto (Quim); Moisés, Marcos António e Sousa.
Treinador: Prof. Fernando Duarte


XXX


Com resultados inconstantes, a Direcção encontrou em "casa" o sucessor de Abílio Santana. Jorge Regadas - deixou de dar o contributo como jogador -, coadjuvado por Bites e pelo professor Serdoura, assumiu as rédeas do grupo.
O Freamunde chegou a andar malzinho, lá pelos "baixos", mas na hora da verdade ultrapassou vários adversários, Paços incluido, até ao sexto posto final, na Zona Norte da 2ª Divisão Nacional, alardeando mestria, categoria e muita pinta.
Os adeptos ficaram, definitivamente, convencidos com o "dedo" de Jorge Regadas.
Nem na "Mata Real", com o Paços, os "azuis" deixaram de vincar a sua habitual superioridade. Dois golos - um para cada lado - iluminaram o trivial do encontro.
Nas bancadas, vivência apaixonada sem que, por outro lado, se perdesse o dever e o raciocínio das coisas naturais e correctas deste mundo. Enfim, nada como antigamente. Outros tempos!... Ainda bem! 

Paços de Ferreira - 1/Freamunde - 1

Ficha do jogo:

Árbitro: Jorge Rodrigues (Braga)




 
Paços de Ferreira: Luz, Afonso, Batista, Albino e Mota; Quim, Monteiro (Tomé) e Fernando Jorge; Moisés, Augusto (Marcos António) e Careca.
Treinador: Vitor Gomes



Em cima: Mário, Luís Filipe, Miguel, Abel, Beto, Jorge Costa
Em baixo: Roberto, Serginho, Vasco, Américo, Domingos Santos 


Freamunde: Miguel, Beto, Jorge Costa, Américo e Domingos Santos; Mário, Vasco e Serginho; Abel (José João), Roberto e Luís Filipe.
Treinador: Jorge Regadas

Marcadores: Quim (7) e Roberto (15).

"VIAGEM PELO TEMPO", por Joaquim Pinto (11)


FREAMUNDE/PAÇOS - "DERBYS" ETERNOS (11)

ÉPOCA 73/74



3 de Fevereiro de 1974: 19ª jornada do campeonato da 3ª divisão nacional e última da primeira volta.
O Freamunde continuava a manter os primeiros  (Régua, Paços de Ferreira e Avintes) à vista.
A verdadeira capacidade do grupo ia ser aferida na recepção ao vizinho. Os de Paços mantinham legítimas aspirações. Vislumbravam a subida de divisão.
O recinto do "Carvalhal" tornou-se pequeno para albergar tanta assistência.
A lotação estava esgotadíssima. Nem para o terceiro anel do monte d'Acheira havia "bilhetes".
Os espectadores mal se conseguiam mexer, havendo quem assistisse ao jogo quase - ou mesmo - ajoelhado já dentro do campo, junto ao gradeamento.
Amontoada por detrás da baliza do lado sul do "Carvalhal" encontrava-se a falange forasteira.
O ambiente, dentro e fora das quatro linhas, era de cortar à faca.

Ficha do jogo: ("onzes" e respectivas substituições)

FREAMUNDE: Miguel, Ribeiro, Júlio "Guerra", Domingos Faria e Albino; Martinho e Couto; Santana, Pinto, Abel e Ernesto.
Treinador/jogador: Santana

PAÇOS DE FERREIRA: Filipe I, Chaves, Filipe II, Rómulo e Freitas; Pimenta (Pinho) e Canhoto; Lima, Canavarro, Mascarenhas e Jesus (Malheiro).
Treinador: Daniel Barreto

As equipas eram apoiadas por 5.000 almas que testavam, sem parar, as cordas vocais.
Para Melo e Costa, repórter  do "Jornal de Notícias" destacado para a cobertura do "derby", o que presenciava era uma "coisa inimaginável", um jogo mais do que "grande".
«Afinal o que é um "jogo grande"? Na sinonímia dos desportistas afectos ao futebol e na interpretação dos dicionaristas da modalidade, "jogo grande" é aquele que envolve a presença de dois "grandes". E "grandes" são o F.C. Porto, o S.L. Benfica, o Sporting Clube Portugal... Os outros jogos, os que confrontam outros clubes, mau grado transcendência de que eventualmente se possam revestir, são, quanto muito, «jogos importantes». E isto a nível de 1ª Divisão, que se descermos os degraus, os outros desafios de futebol só grangeiam certo rumor se catalogados de "decisivos"...
Estivemos em Freamunde. E não porque o jogo fosse decisivo. Mas também mais que importante. Ele valia, para as duas localidades vizinhas, pelo mais sensacional Porto/Benfica. Fosse qual fosse o encontro que se disputasse na área, com Cubillas ou com Eusébio, com Cruifft ou Pelé, ontem, não havia aborígene que arredasse pé do campo do "Carvalhal".
Aquilo não era Freamunde - mas o fim do mundo, em assistência, em entusiasmo, em excessos! Foi, ao longo destes 25 anos que levamos de jornalismo desportivo, a primeira vez que fomos destacados para comentar um jogo da III Divisão. E, com prazer e mágoa o afirmamos, o acontecimento que constituiu uma das mais belas experiências da nossa vida de crítico de futebol - e a tal ponto, que lamentamos, nesta caminhada de um quarto de século, não termos "perdido" mais tempo com jogos de futebol desta natureza.

O que interessava era ver o jogo. Tudo fazia sentido.
Fonte: "Jornal de Notícias"

Já não sabíamos o que era o futebol na sua exegese do amadorismo mais puro, já não sabíamos o que era o futebol espontâneo, livre dos complicados e por vezes insuportáveis espartilhos das tácticas, já não sabíamos o que era vinte e dois jogadores em permanente movimento - que as medidas do campo, além do mais, a isso os obrigavam, já não sabíamos o que era correr lágrimas de fogo por faces encandecidas, já não sabíamos o que era o peso do desalento, a euforia das falanges de apoio, o esganiçar das raparigas, a irrequietude do rapazio, aos magotes, o silencioso roer das unhas, o drapejar das bandeiras, aos molhos, como "mimosas" azuis e brancas, sob os ventos do jogo. Foi tal a nossa emoção, que até nos agradamos de ver - e perdoem-nos a franqueza -, como nos "bons velhos tempos", um guarda-chuva ferir o ar e um bom murro à portuguesa a fazer saltar os dentes. 



Deu coisa boa estar ali em Freamunde! É que tivemos ocasião de registar, também, que não fora, apenas, um mergulho de encontro ao futebol empírico, quase elementar, no ambiente natural onde mais que as regras contam os impulsos e mais que o jogo contam as paixões... e as rivalidades. Podem por vezes (como aconteceu) pisar as raias do condenável - mas fazem-nas às escâncaras, de peito aberto, sofrendo ou fazendo sofrer as consequências.
Foi bom, é bom, porque é puro! E há ali todo um mundo a cultivar, a comparar, a guiar. É que daquelas 5 mil pessoas (!) que tomaram de assalto o acanhadíssimo recinto, uns milhares, largos, eram de jovens, rapazes e raparigas! E a quantidade de mulheres ali presentes! E o barulho, o pandemónio infernal que ali faziam!
Um rapagão, empunhando uma bandeira grande como coberta de cama de casal, entrou em campo para se postar à frente da equipa do Freamunde, que entrava em campo. Nunca a meus ouvidos reboou tal estampido! Bonzo, saí do recinto dos balneários à cata do "lugar da Imprensa"! Mas que diabo de ideia tão peregrina me havia de assaltar! O terreno conquistado é todo - e não chega - para o rectângulo de jogo e para amontoar e comprimir a multidão dos apaniguados! Como pode passar despercebido das autarquias locais tão extremo esforço, tamanha dedicação, tão veemente desejo de serem o porta-estandarte da localidade? Que é, que representa um subsídio de 10 mil escudos anuais para um clube de futebol, nos tempos de hoje? Que reconhecimento há para a vitalidade deste clube e desta terra, ninho ariçado de indústrias?
Bonzos pelo barulho e confundidos nestas cogitações, tratamos de arranjar alugar. O único - e esse por especial deferência dos dirigentes locais - foi-nos oferecido no "banco dos réus", ao lado do técnico-adjunto e dos suplentes do Freamunde»
Francisco Rodrigues, de Leiria, soprava para o início do desafio.
O Freamunde foi o primeiro a marcar, por Couto, através de um centro remate que traiu o guarda redes Filipe. Foi o delírio nas hostes locais.


Festejos freamundenses após marcação do golo, por Couto

O jogo estava apaladado por sentimentos mesquinhos que o futebol incendiava. Havia mesmo um certo azedume entre as claques que se alastrava durante a partida. As constantes vitórias dos "azuis" faziam saltitar "labaredas" de rivalidade por vezes a "roçar" o ódio. Jogo entre ambos resultava quase sempre em perigosos focos de conflituosidade, exigindo intervenções, algumas despropositadas, dos agentes da G.N.R., que abriam caminho à bastonada e coronhada, sem olhar a quem.
Os freamundenses iam atirando para o rectângulo de jogo o seu caloroso incitamento.
Do outro lado, surpreendentemente, surgiram "pétalas" de granito que provocaram algumas lesões. Canavarro que o diga.

Panfleto anónimo lançado dias após o jogo

Atiçar o fogo era correr o risco de ser chamuscado pelas chamas. Para isso bastava que o vento virasse.
Insultos, por vezes baixos, sem qualificação, eram uma constante.
No entanto, esse ambiente de guerrilha não se espalhou pelo campo. Os atletas entregaram-se à luta de uma forma leal, completamente alheios aos desvarios que lá fora iam surgindo.







Já bem perto do final, Martinho colocava água na fervura ao introduzir o esférico na sua própria rede. Um toque infeliz após a marcação de um canto, que surpreendeu Miguel. Estava reposta a igualdade. A tempestade amainou. O vento, afinal, não virou.
Calaram-se as vozes e tudo voltou à normalidade.
O borrego, esse, continuava vivo.
O Paços, recheado de profissionais - os jogadores do Freamunde treinavam só duas vezes por semana ao cair da tarde...Muitos, apressados, compareciam ainda de fato macaco vestido -, contentou-se com um empate graças a... Martinho.
Vitória retumbante para os atletas pela aplicação e correcção  postas na refrega e derrota, vergonhosa, para os adeptos - não vamos só culpar os "vasquinhos", não senhor... - pelo seu indigno comportamento.
Afinal, no futebol, desporto de paixões, somos todos "irracionais".
Cabeças esfriadas e tudo ficava sanado com uns copos na tasca d'Arminda.
Como um "gaio" ficou o jornalista Melo e Costa, que levou para contar «O que se passou naquele recinto foi qualquer coisa que transcende as nossas possibilidades descritivas. Que venham lá os intelectuais de trazer por casa, falar de futebol alienatório! Que coisa linda! Por exemplo, quando o Freamunde marcou, jogadores a chorar, amarrados num cacho, dirigentes aos saltos, povo a cantar, moças a correr, sirenes, bandeiras, abraços na mais caótica e maravilhosa confusão que nos foi dado ver!

...Da autoria, creio, de Fernando Santos



XXX


30 de Junho de 1974. Derradeiro "embate" do campeonato, em Paços de Ferreira, perante uma assistência calculada em 15.000 espectadores - haverá algum jogo, nos tempos actuais, com excepção dos realizados nos terrenos dos denominados "grandes", presenciado por tanta gente? - e uma receita (imagine-se!) a rondar os duzentos contos. Um balúrdio.
Tudo servia para incentivar os atletas. Buzinas, pandeiretas, bandeiras, cartazes... O ambiente era de loucos. Até uma avioneta sobrevoou o campo, agora da "Mata Real" - era já uma saudade a "Cavada" - com dizeres nada abonatórios e que denotavam evidente preocupação de reacender velhas rivalidades. Alegados "chicos espertos" que faziam da guerra suja uma maneira de estar no futebol.
Em vão. O espectáculo foi mesmo uma festa. Ordeira, sem incidentes.
Todos se comportaram com extrema dignidade.
Debaixo de fortes aplausos as duas formações fizeram evoluir em campo os seguintes elementos:

Paços de Ferreira: Filipe I, Freitas, Filipe II, Chaves e Pinho; Dias e Canhoto; Pimenta, Canavarro (Carlos Alberto), Mascarenhas e Malheiro (Carlos Alves)
Treinador: Daniel Barreto


Em cima: Chaves, Filipe II, Filipe I, Dias, Freitas e Pinho
Em baixo: Pimenta, Malheiro, Mascarenhas, Canavarro e Canhoto

Freamunde: Miguel, Ribeiro, Júlio "Guerra", Domingos Faria e Luís Afonso; Justino "Guerra" e Martinho; Andrade, Santana, Abel (Pinto) e Ernesto.
Treinador/Jogador: Santana







Em cima: Miguel, Júlio "Guerra", Luís Afonso, Faria, Quim, João, Jacinto e Manuel.
Em baixo: Ribeiro, Santana, Justino "Guerra", Abel, Andrade, Pinto, Ernesto e Martinho.

A arbitragem foi confiada a Simões Júnior, de Coimbra.
As equipas apresentavam-se com sentimentos diametralmente opostos; de um lado o Paços de Ferreira desejoso de acabar com o feitiço" e tornar-se campeão - um empate já era suficiente -, do outro, o Freamunde, sem nada a perder mas... se mais não fosse, havia a honra e a dignidade para defender. Depois, era cedo para "sacrificar" o animal.
Os pacenses possuíam, como cabeças de cartaz, Canhoto, Mascarenhas e, sobretudo, Canavarro.
O Freamunde "servia-se" do contagioso espírito de grupo.


Equipas perfiladas

Os primeiros minutos foram de estudo mútuo. As equipas receavam-se. Os "maestros" Canhoto e Santana, duas velhas raposas, resolveram pegar na batuta e a música passou a ser outra.
Domingos Faria, implacável, não dava um palmo de terreno a Canavarro. Uma entrada pouco ortodoxa e aí tínhamos o artilheiro-mor no estaleiro.
Seria o Paços, no entanto, o primeiro a cantar de galo. Canhoto esgueirou-se pelo centro e aproveitou uma desatenção da defensiva "azul e branca" para abrir o activo.
Rejubilaram os pacenses, subindo ao ar  estrondoso foguetório. Ainda era cedo. Faltava saber quem iria apanhar as canas.
Os "capões", briosos, não estavam pelos ajustes. O "menino" Andrade, um dos mais inconformados, rompeu, rompeu, e pôs a cantarolar as suas gentes. Estava restabelecida a igualdade. Tudo voltava ao princípio.


...O Freamunde acabava de empatar, por Andrade. Nos efusivos festejos nota-se a presença de um jovem adepto do Freamunde que não resistiu à emoção e invadiu o campo para abraçar os seus "ídolos".

Para o Paços servia assim mas o Freamunde queria mais. A esperança continuava no peito.
O borrego podia dormir descansado que a degola ficaria para mais tarde, acreditava-se.

Miguel antecipa-se a Mascarenhas e afasta o perigo

O "galináceo" aveludava a pena.
Eram por demais evidentes os sinais de nervosismo nos adeptos locais, roendo as unhas, com a alma em sobressalto. Sofriam a bom sofrer. O fogueteiro tinha ido dar uma volta.
Os minutos avançavam prosseguindo a emoção, o entusiasmo, a vibração.
Ninguém arredava pé.
Ernesto, isolado - e só faltavam três minutinhos para acabar -, falha o que parece certo: o golo. Seria o fim dos pacenses.
Dá o "chelique" em algumas senhoras que não resistem à emoção do momento. Entram os maqueiros.
Quanto a golos, mais não houve. O jogo terminava assim. Com um empate.
Mas... o "feitiço" continuava. Ainda não tinha sido desta que os "vasquinhos" tinham conseguido derrotar os "vizinhos". E tanto queriam! Paciência! Há mais marés que marinheiros, dizia-se.
Os pacenses deram largas ao seu entusiasmo - não foi assim muito -, vitoriando os atletas pela subida automática à 2ª divisão nacional.
As manifestações seriam, entretanto, interrompidas pela chuva diluviana que caiu sobre o concelho.
S. Pedro, "primo" de Santa Luzia, pregou-lhes uma "partida". Não se faz!
Ai se o Ernesto tivesse aproveitado aquela oportunidade!...