terça-feira, 10 de dezembro de 2024

"TEATRO" EM FREAMUNDE - MAIS DE 100 ANOS DE HISTÓRIAS (9)

 Continuação: 















    O teatro continuava a ser acontecimento de algum relevo, visitando-nos, assiduamente, Grupos de reconhecido mérito. Por exemplo, no dia 9 de Fevereiro de 1931, foram dadas a apreciar as peças, "Não é o Mel", "A Ordem é Ressonar" e "Coração de Bombeiro", levadas a palco pelo "Grupo Dramático de Pedras Rubras".

    Já no dia 19 de Março, em benefício dos Bombeiros Voluntários de Freamunde, o "Grupo Unido de Amadores da Arte de Talma, do Porto", com a encenação a cargo de Jacinto Santos, apresentou, na ASMF, as seguintes obras: "Guarda de Honra", "A Cruz de Guerra", "O que são as Mulheres" e "Os Pimentas".

    Tempo ainda para um acto de variedades, pelo distinto tenor Heitor de Vilhena, Augusto Machado, Alzira Santos e Maria Freitas, constando de recitações, canções e versos. Ao piano o conhecido maestro Júlio Pontes.

    No dia 11 de Maio do mesmo ano, foi a vez da Banda de Freamunde ser contemplada com um espectáculo em seu benefício, dado pela "Troupe Dramática Freamundense". Era, como se pode verificar, espantosa e de enaltecer a solidariedade existente no seio das instituições locais. As peças de teatro apresentadas - conforme viu e relatou o correspondente do "Heraldo", nesta terra, Libório Pinto - foram: "Manhã de Névoa", "O Fado" (episódio de um vivo naturalista, de Bento Mântua), "Prólogo" (dito por Joaquim Pinto Pereira Gomes) e "Casa de Babel". Nos desempenhos tomaram parte os "consagrados" amadores: Leopoldo Saraiva, Libório Pinto, Ernesto Gomes Taipa, Salvador "Santa Marta", Rafael Pinto Graça, António Joaquim Ribeiro, e as galantes meninas Maria de Lurdes "Santa Marta" e Felisbina Pinto Gomes. A encenação, mais uma vez, a cargo de Leopoldo Saraiva. A missão de ponto foi confiada a Joaquim Pinto Pereira Gomes.

Apresentou-se também a afamada Banda de Freamunde, com excelentes áreas das óperas, "Cavalleria Rusticana" e "Aida".

«O concerto foi deveras sublime e a Banda pode considerar-se uma das melhores do norte do país».



Banda de Freamunde

    Como dá para perceber, o "empreendimento" levado a cabo pela "Troupe" impôs a mobilização de muitos elementos jovens, talentosos, com comunicabilidade, que - só assim poderia ser! - irmanavam ambição, entusiasmo e espírito de sacrifício. Faltavam, contudo, melhores infra-estruturas, sobretudo ao nível de tablado e camarins. Nada que o talento, disponibilidade e paixão, de Leopoldo Pontes Saraiva não resolvesse. Em pouco tempo, a Associação de Socorros Mútuos  Freamundense (e Freamunde, por que não) passou a dispor de um palco (que ainda perdura!) mais consentâneo com as necessidades onde, a partir de então, muito se poderia erguer.


Plateia da ASMF em dia de teatro


    As iniciativas não se podiam perder, sequer desvirtuar. Estava em risco a diminuição de espectáculos, de espectadores.

    Março, continuava, por excelência, a ser o mês de teatro. Disso nos dá prova "O Heraldo", do dia 27 de Março de 1932 (Freamunde já usufruía de luz eléctrica, desde 13 de Junho de 1931, e de novo edifício escolar, equipado com duas salas - as, mais tarde, denominadas "escolas das meninas" -, inaugurado em 25 de Outubro do mesmo ano), com a seguinte notícia: «O Grupo de Amadores Dramáticos de Freamunde" levou à cena, na ASMF, as seguintes peças: "Quem Matou" (Drama policial em 3 actos) e ainda Monólogos, Duetos e Canções - "Os Apaches", "Fado do Vagabundo", "O Garoto da Rua", "Amor e Música", "Zé Pacóvio" e "Raivas de Amor".

Elenco artístico: Gaspar Pereira, Libório Pinto, Adriano Leitão, Carlos Oliveira, Matos, Rafael Pinto Graça, Ernesto Taipa e as meninas Felisbina Pinto Gomes e Sofia Soares».

    A Constituição de 1933, mantendo, não obstante, o regime de separação em relação à Igreja Católica e qualquer outra religião ou culto praticado dentro do território português, manifestava na sua orientação o retorno à consideração pelos valores espirituais tradicionais. Será que nesta terra, no referido ano de 1933 (Freamunde, por decreto de 13 de Junho, foi elevada à categoria de Vila, dando origem a grandes manifestações de regozijo), tal diploma teve repercussões na actividade teatral, pois não encontramos nos jornais existentes, "O Pacense" e "O Heraldo" quaisquer tipo de registos? Ou porque a Leopoldo Pontes Saraiva, habitual ensaiador, lhe tinha sido confiada a "exigente" missão de... Regedor?Suposições!... Meras suposições!...

    No dia 19 de Março de 1934, integrado nas comemorações do aniversário da ASMF, um Grupo de Amadores da Póvoa do Varzim apresentou um atraente espectáculo em 3 partes:

1ª parte - Opereta em 1 acto, "Ali... à... Prêta". Distribuição: Josefa (Maria Vilaça); Anacleto (Júlio do Carvalhal); Ernesto (Cunha Guimarães) e Victorino (Nascimento Ferraz).

2ª parte - Engraçada comédia, "Pancrácio em Calças Pardas".

3ª parte - Canções e versos por Maria do Carmo Vilaça, Nascimento Ferraz, Cunha Guimarães e Júlio Carvalhal.

Sob direcção de Nascimento Ferraz, o espectáculo foi abrilhantado pela conhecida e afamada Banda de Freamunde.


    Já liberto do cargo de "principal autoridade" local, Leopoldo Saraiva retoma os ensaios da "Troupe", fazendo de novo a sala da ASMF transbordar de público, nos dias 21 e 28 de Abril de 1935, na apresentação das peças, em 3 partes: "Comédia Francesa", de André Mycho, em 1 acto, e "Um Quadro de Miséria", peça em 2 actos -, hilariante comédia de grande gargalhada.

Ao piano, aparece-nos referenciado C. Pereira; como Ponto, V. Ribeiro e no trabalho de Contra Regra, Ribeiro.

    Mas, que raio!, só se serviam comédias fáceis?! Em verdade o melhor que se produzia eram... comédias. Era tudo? Pelos vistos, quase tudo, que, não sendo muito, já era alguma coisa.

Continua:

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