terça-feira, 25 de junho de 2019

"VIAGEM PELO TEMPO", por Joaquim Pinto (5)


SPORT CLUBE DE FREAMUNDE
HISTÓRIAS E LEMBRANÇAS ÚNICAS (4)


COMPLEXO DESPORTIVO: 
A CONQUISTA DO FUTURO



COMPLEXO DESPORTIVO DO S.C.FREAMUNDE

O "Carvalhal", fruto dos tempos, estava condenado como espaço para jogos oficiais, dada a sua exiguidade e impossibilidade de alargamento.
Era preciso fazer-se qualquer coisa. Encontrar alguém que se mexesse... E então?
Em finais da década de setenta, "picado" por amigos do "Recreativo" que nele viam a figura ideal para liderar o processo de execução de um novo complexo desportivo, José Maria Gomes Taipa seria eleito, em Assembleia Geral Extraordinária de 26 de Outubro de 1977, para presidir à Comissão de Obras P'ró Estádio, fazendo-se secundar pelos Vice Abílio Carlos Pinto Felgueiras e Adriano Antero Leitão Soares; Tesoureiros Luís Alberto Gomes Teles Menezes e Abílio Fernando Pinto Leal; Secretários Vitorino Ferreira Ribeiro e António Costa Alves; Vogais Agostinho Ferreira Leal, António Luís Leão Costa Torres, Anselmo Ferreira Marques e Domingos Ribeiro Alves.
JOSÉ MARIA GOMES TAIPA
Um grande empreendimento só o merecia um grande clube, que para ser grande precisava de gente com capacidade, interessada e diligente, de muitos e bons sócios. O futuro não poderia estar hipotecado nas mãos de qualquer um.
Garantidos os terrenos, logo outorgados, numa zona arborizada, bonita, iniciaram-se os trabalhos de terraplanagem e a implantação dos esgotos. O projecto, da autoria de J. Carlos Loureiro e L. Pádua Ramos, arquitectos com gabinete na Rua da Alegria, cidade do Porto, tinha custado trezentos contos. Ganhava forma o complexo desportivo que, para além de um espaço relvado onde se praticasse o futebol, deveria obedecer a outras infra-estruturas, capazes de rentabilizar o investimento e proporcionar o lazer e confraternização entre os adeptos - piscinas, pavilhão, pista de atletismo, circuito de manutenção, parque infantil, campo para hóquei, basquetebol e andebol de sete, "courts" de ténis, restaurante...
Porém, orçamentos incomportáveis e falta de senso no problemático caso da venda do "Carvalhal", inviabilizaram parte do "sonho", pelo que o projecto, na sua globalidade, não passou do papel.
Para agravar a situação, José Maria Taipa iria ficar sozinho pois, à excepção de Vitorino Ferreira Ribeiro, em quem depositava uma confiança ilimitada, todos os restantes elementos, por razões diversas, se afastaram.
De repente a obra parou. Ou melhor, pouco evoluiu.
As "partes" entraram em conflito, caprichos atrás de caprichos, e seria necessário esperar dez (!) anos para que a expansão do clube fosse caracterizada pelo seu enriquecimento patrimonial com o reinício das obras do seu novo e moderno complexo desportivo, depois de alguma controvérsia e desencanto.
O desejo era antigo, mas a construção sofreu algumas "nuances".
O projecto, de vulto, tinha custos elevados, que iriam ser agravados com a manutenção e limpeza das suas instalações. Os valores apontados eram preocupantes e para cobrir o orçamento foi necessário recorrer à comparticipação governamental,  cerca de 60%, à ajuda da Câmara Municipal e ao esforço financeiro dos freamundenses - o comércio e a indústria local, salvo raras e habituais excepções, poderiam e deveriam, face à amplitude do empreendimento, ter correspondido de uma forma mais significativa.


Seguiram-se tempos de intenso trabalho: homens e máquinas.






José Maria Taipa, responsável principal, autêntico mentor, impulsionador, executor... (bem aconselhado e ajudado pelo Engenheiro Ulisses Valente, grande freamundense), dum acontecimento que simbolizava uma importante viragem na vida do clube, acompanhou a evolução da obra do primeiro ao último dia, e não escondeu a emoção por sentir que a sua colaboração, astúcia e inteira disponibilidade, ajudaram a erguer um bonito complexo desportivo, espaço com características modelares e funcionais.
Notava-se que o absorvia um sentimento de dever cumprido.
O clube mudava-se de armas e bagagens para os lados da Lama, perto de Pessô.
A Vila, inteira, agradeceu. Orgulhosos passaram a viver os adeptos "azuis e brancos".
O primeiro jogo oficial no relvado do novo complexo realizou-se no dia 18-02-1990. Frente a frente as equipas do S.C.Freamunde e A.D.Fafe. O resultado final saldou-se num empate a zero bolas, jogo correspondente à 18ª jornada do campeonato nacional da 2ª divisão - zona norte, arbitrado por Jorge Coroado, de Lisboa.








Como nota de curiosidade, as redes foram "furadas" pela primeira vez pelo brasileiro Marcos António, avançado do Freamunde, na vitória (2-1) sobre o Vianense.
As equipas da formação continuaram, por cedência e "amabilidade" do novo e "legítimo" proprietário dos terrenos do velho campo, a utilizar o seu pelado até ao adeus definitivo do "Carvalhal": 23 de Junho de 1996.
No início da época 96/97, os jogos dos "meninos" passaram a desenrolar-se no novo campo de treinos do complexo desportivo, ainda em terra batida, oficialmente inaugurado. Para trás ficava o nostálgico e mítico "Carvalhal".
O pontapé de saída foi dado pelos Infantis, na recepção à congénere de Modelos. Os "capõezinhos" venceram por 4-0 e alinharam assim: Amândio, Luís Carlos, Filipe, Nelson, Ribeiro; Ricardo, Barbosa, Pedro; António, Ângelo e Adérito.
António fica na história como marcador de todos os golos da sua equipa.


Equipa de Infantis do S.C.Freamunde, composta, entre outros, por Barbosa, Ricardo, António, André Leão, Samuel...

Equipa de Infantis do Modelos, treinada por António, malogrado ex-atleta do Freamunde, campeão distrital júnior na época 89/90.

Não se ficaram por aqui as melhorias. 
Por alturas do 72º Aniversário do S.C.Freamunde (19-3-2005), as infra-estruturas do complexo foram enriquecidas com a inauguração do segundo campo relvado, à altura do valor e da importância do clube, uma das melhores escolas do distrito, com condições suficientes para ajudar à evolução desportiva dos trezentos jovens que diariamente utilizavam as instalações, resultado dum esforço suplementar da Comissão Administrativa do S.C.Freamunde e dum protocolo com a Câmara Municipal, correspondendo a um velho anseio dos responsáveis do departamento de formação.


Descerramento de placa comemorativa da inauguração pelo Governador Civil do Porto, Dr. Manuel Moreira 

O cenário da inauguração foi bonito, de alegria e de júbilo, de inconfundível amor clubista. A festa correu bem, com brilho e simbolismo.
O evento contou com a presença do Governador Civil do Porto, edilidade local e concelhia, dirigentes, sócios e simpatizantes do clube.
Todos os jovens dos diversos escalões desfilaram na viçosa relva do novo campo.
A promessa de um sintético ficou no ar. Veio mais tarde. 




Houve festa em Freamunde no dia 14 de Março de 2009. Antes do jogo de Infantis, Freamunde/Amarante (4-2, com os golos dos "capõezinhos" a serem apontados por Miguel Costa, Jorginho, Tiago Alves e Bruno Silva), procedeu-se à tão ansiada e merecida inauguração do bonito tapete verde.





Equipas Infantis do Freamunde e Amarante






Ainda no "reinado" de Ernâni Cardoso, integrado nas comemorações do 90º aniversário do clube, o já "destruído" relvado nº2 foi substituído por um novo e moderno tapete sintético, cumprindo-se assim a promessa do executivo pacense, liderado por Humberto Brito. O referido autarca presidiu à cerimónia de inauguração que ocorreu no dia 18 de Março de 2023.




Foram, finalmente, libertadas as amarras que impediam o S.C.Freamunde de olhar o futuro com outra ambição.


domingo, 23 de junho de 2019

"VIAGEM PELO TEMPO", por Joaquim Pinto (4)


SPORT CLUBE DE FREAMUNDE
HISTÓRIAS E LEMBRANÇAS ÚNICAS (3)

 CAMPO DO "CARVALHAL" - ESPAÇO DE MEMÓRIAS


O clube nasceu pobre, sem grandes meios financeiros para garantir campo próprio para treinos e jogos. Era, portanto, tarefa prioritária fomentar a actividade futebolística, com algumas condições de higiene, mesmo em espaço alugado.
A dois "palmos" de distância do centro da povoação existia um terreno que dava na perfeição para erguer um campo onde fosse possível praticar a modalidade.
Feitas as necessárias diligências, as dificuldades foram inicialmente ultrapassadas com o arrendamento dessas terras ao Dr. António Corrêa Teixeira Vasconcelos Portocarrero por uma importância compatível com as possibilidades do clube. 
(O Dr. Portocarrero - figura fascinante e poderosa -, Matemático, Coronel e Director da Escola Militar de Artilharia, Chefe de gabinete do Ministro da Guerra, Comandante da 3ª Divisão do Exército "Porto", Deputado, Comendador das Ordens de Avis, Cristo..., era senhor de muitas propriedades espalhadas por todo o Vale do Sousa. 
Nascido no dia 20 de Novembro de 1858, em Paredes, na Casa do Barreiro (freguesia de Santa Maria Madalena), onde passou os últimos anos da sua vida, casou em Lisboa com Maria de Jesus Pereira Bretes).


Por Valiosas ofertas ao Clube, o Dr. Portocarrero foi nomeado sócio benemérito da Colectividade

A acção do, na altura, Tenente Alves de Sousa, distinto militar que se movimentava bem junto das altas esferas políticas e financeiras, foi preponderante para o êxito da operação.
Depois, utilizando mão de obra voluntária - rostos invisíveis, anónimos, que trabalharam intensamente sem que os motivasse qualquer interesse material, fazendo uso dos seus instrumentos de ofício, pás, alviões, picaretas, manejados com toda a eficiência e denodo - o rectângulo de jogo ganhava contornos.
Os trabalhos tomaram de início um ritmo acelerado, de tal forma que, em pouco mais de seis meses, o campo, com condições suficientes para um clube em crescimento, foi dado como pronto (Março de 1935). Campo esse denominado de "Carvalhal" por se situar no lugar do mesmo nome e por muitos entendidos considerado um dos mais modernos e funcionais da província.
Em Dezembro de 1934 é convidado o Sport Club Sobrosa para um jogo que serviu de experiência ao novo campo do clube, privado ainda dos indispensáveis balneários, construídos tempos após e que constavam de uma periclitante estrutura de madeira, pintada a azul, de telhado clássico e com um pequeno gradeamento frontal, assente no solo a uns quinze/vinte metros a norte da porta de entrada principal.



(Em frente ergueu-se, mais tarde, um frondoso carvalho - felizmente ainda resiste - transplantado pelo freamundense João Pereira, mais conhecido por João "Ovelha". A árvore veio do Marão, trazida por um tal Mendes, chefe dos cantoneiros, natural de Felgueiras, que correspondeu afirmativamente e com enorme prazer ao pedido formulado por Hermínio Pinto, dirigente de então).
Para suprir tal lacuna os jogadores serviam-se de pequenos aposentos de uma casa particular pertença de Maximino "da Eira", mais tarde sogro do atleta Alberto Augusto.
A vitória sorriu aos anfitriões por uns concludentes 10-0.
Testemunhos da época referem que a jornada foi um êxito total, pelo número e qualidade de espectadores e também pelo interesse despertado.
Cerimónia essa que jamais se apagará da memória de quem teve o privilégio de assistir e participar (já são tão poucos!), e do coração de quem esperou e lutou por esse momento.


"Onze Vermelhos"

Em cima: Adolfo Pereira (Dirigente) - Adelino "da Claudina" - António "Bica" - Joaquim Pinto - Moreirinha - António "Careca" - Neca "da Couta" - Juca "Careca"
Em baixo: Zé "Careca" - Zé "Bica" - Alberto "Botas" - Cândido Pinheiro - Arnaldo Pinheiro


O que de mais relevante ressaltou do acontecimento foi a adesão de entusiastas, figuras públicas incluídas, o ambiente de festa que rodeou a peleja e a goleada - é sempre bom ganhar-se mesmo num jogo a "feijões" - imposta pelos rapazes da casa aos ilustres visitantes.
Para os intervenientes directos foi, sem dúvida, um dia de verdadeira felicidade, compreendendo-se o que para eles representava vestir, em data simbólica, a camisola que era já uma paixão.
Uma semana depois, a rapaziada recebe e derrota copiosamente os "Scouts" (Escuteiros) da Vila de Paços de Ferreira, por 13-0.
"Foi um para cada um e ainda sobraram dois" - assim nos contava, vezes sem conta, com os olhos a brilhar, Cândido Pinheiro, atleta desse lendário grupo.
No "Carvalhal", ao longo de muitos anos (60, aproximadamente) escreveram-se algumas das "Páginas Futebolísticas" mais brilhantes da respectiva história.
Ao "Carvalhal" passaram a convergir milhares de homens , mulheres e crianças que, com a sua alegria, a sua entrega, tanto a participarem como só a verem ou a apoiarem, fizeram do Freamunde um clube diferente, do qual todos gostamos.


"Carvalhal" em dia de jogo

Mas, com o decorrer dos tempos, as estruturas degradavam-se. Os painéis de madeira que circundavam o campo, ruídos pela usura e pelas intempéries, exigiam bastantes consertos. 
Amâncio Ribeiro
Em 1947, a direcção liderada por Amâncio de Vilhena Ribeiro decidiu adaptar um chuveiro privativo no gabinete do árbitro. Finalmente o homem do apito já podia tomar banho sossegado.
Também por oferta de Júlio Dias de Andrade, comerciante de madeiras desta terra, foi colocada - era mesmo necessidade extrema - uma porta na entrada sul do campo do Carvalhal, satisfazendo-se, principalmente, os anseios dos adeptos da vizinha freguesia de Ferreira.
O clube crescia a olhos vistos.
Em 1948, os terrenos do campo do Carvalhal continuavam alugados ao Dr. Portocarrero.
A renda, recebida pelo Dr. António Chaves, era paga do seguinte modo: entrega em cada ano ( pelo S. Miguel, entre 29 de Setembro e 01 de Novembro) de 20 rasas de milho e 10 carros de mato, ao preço corrente. Não existia contrato escrito.
Entretanto, falecia no Porto o Dr. Portocarrero. A viúva, ao ter conhecimento pelo seu feitor, Casimiro "d'Afreita", que a direcção do Sport Clube de Freamunde tinha mandado celebrar missa por alma do marido, ordenou que a partir de então, e já nesse ano, a renda de aluguer do campo deixaria de pagar-se. O Clube agradeceu, penhoradamente. Pudera!
Os anos passavam e o campo de jogos, incompreensivelmente - o dinheiro não sobrava -, mantinha vedação em madeira. De Inverno, em períodos de forte ventania, os taipais davam sinais de fadiga e caíam com bastante frequência.
Para a reparação dos estragos a agremiação contava com a preciosa ajuda da "Fábrica Grande" - oferta de materiais - e os préstimos de quatro verdadeiros freamundenses: Neca "da Couta", Alfredo e Francisco "da Fonte" e Valentim "Faneco". Que entrega, disponibilidade e paixão destes bairristas!...


Campo vedado a taipais de madeira

Entretanto, o projecto clube/empresa, sem o apoio da "alma-mater", Padre Castro, entretanto falecido, perdia sentido.
Padre Castro
As coisas poderiam mudar. E mudaram.
Necessário e urgente era dotar o recinto de modernas e funcionais infra-estruturas.
Fernando Leal, vice-presidente do executivo, sonhou e a obra, grandiosa, nasceu. Estávamos em 1959.
Mas não foi fácil esta tarefa. Fernando Leal viu-se exclusivamente só a arrastar tão pesada cruz, acto a que os seus colegas de direcção se recusaram por receio de tão grande empreendimento.
Indiferente aos obstáculos que tamanha iniciativa não deixaria de lhe oferecer, Fernando Leal não hesitou em levá-la por diante, embora muitos escolhos tivessem surgido.
A realização era onerosa e complexa mas da maior utilidade para os fins em vista.
Fernando Leal
As obras, dispendiosas, ficaram por 70.000$00. Da massa associativa apenas se conseguiu a quantia de 20.000$00. O Estado - através do Ministério das Obras Públicas, onde a acção do seu Secretário, Eng. Lousa Viana, coração ligado a Freamunde, foi influente - (6.000$00) e a Associação de Futebol do Porto (5.000$00) também comparticiparam financeiramente. De que constaram, afinal, os trabalhos?
Visto o campo ser de reduzidas dimensões e escoar mal as águas pluviais na época de Inverno, aumentou-se o comprimento e largura em cerca de dois metros (louve-se a bondade de Ernesto Taipa ao ceder e permutar parte de terrenos que lhe pertenciam).
As vedações de madeira, já antigas, foram totalmente substituídas. Umas foram realizadas em blocos de betão simples, outras em alvenaria. Construíram-se, também, duas novas bilheteiras e deu-se à entrada principal do campo uma outra configuração. 
Entrada "norte" do "Carvalhal" e zona das bilheteiras
Porque os balneários existentes, de "carvalho" já bastante apodrecido, não ofereciam as condições necessárias, foram feitas, de raiz, mais pr'a baixo, umas novas dependências em pedra (ampliadas mais tarde),  uma cabine radiofónica bem como um W.C. Os adeptos tinham necessidades fisiológicas que não prescindiam delas e necessitavam de se desembaraçar dos seus apertos intestinais.
Procedeu-se, ainda, a canalizações de água, sobretudo para banhos, e esgotos.
Em 15 de Novembro de 1967, o executivo  do Sport Clube de Freamunde, liderado por Anselmo Ferreira Marques, adquiriu, por compra, a herdeiros do Dr. Portocarrero, o terreno do seu parque de jogos, disponibilizando para o efeito a quantia de 130 contos.
Através dos "fundos" do Totobola, a A.F. Porto concedeu um subsídio de 100 contos.
Por uma questão de segurança, em assembleia geral foram dados de hipoteca, à Associação de Futebol do Porto, os terrenos do "Carvalhal", por um período de 100 anos, não fosse o diabo tecê-las.
Anselmo Marques
Em 1974, com a "Revolução dos Cravos", a direcção, presidida por Agostinho Ferreira Leal, natural da freguesia de Modelos mas indefectível freamundense, congratulou-se pelo espírito de equidade de que a vereação pacense deu provas. De injustiças já estavam os habitantes desta terra fartos. Pela primeira vez - com alguma surpresa porque não habituados -, foi concedido um subsídio ao Sport Clube de Freamunde de valor igual ao atribuído ao Futebol Clube de Paços de Ferreira. Acabava a constante indignação de 1.500 associados duma agremiação que se considerava "terra estranha" dentro do concelho. Com a "massaroca" na mão (outras verbas surgiram provenientes de peditórios efectuados), os dirigentes dotaram o "Carvalhal" de luz artificial, necessária para os treinos, aprovada também para jogos nocturnos. Esta arrojada iniciativa custou ao clube a "módica" quantia de 250.000$00.
Os "máximos" dos automóveis dos directores, ligados durante largos minutos no decorrer das sessões semanais para que os jogadores pudessem ver a bola, deixaram de ser necessários.
Também um "Marcador", para assinalar os golos, foi instalado no topo sul do recinto, bem como, mais tarde, uma inovada aparelhagem sonora, distribuída por colunas em redor do campo. Era o adeus às tradicionais e ensurdecedoras "cornetas".
As épocas decorriam (já estávamos em 1989) e o clube era ultrapassado estruturalmente por outras agremiações. Pela "vizinhança".
O Sport Clube de Freamunde, desportivamente, apresentava "palmarés" mas sem condições mínimas para a prática da modalidade. Não era, todo por todo, necessário viver de forma opulenta, mas assim também não.
O mítico "Carvalhal", palco de jornadas memoráveis ao longo de várias décadas, estava caduco.


Auto de Vistoria: Como se pode verificar as dimensões do rectângulo eram muito exíguas

Um novo complexo que reflectisse a grandeza do clube seria uma realidade a curto prazo.
«O tempo não perdoa - como referiu Fernando Santos, também ele ex-presidente do S.C.F., em "Coisas Minhas" -, e mais tarde ou mais cedo todas as coisas atingem o seu fim: até os campos de futebol!... O "Carvalhal" não podia fugir a esta intransigente regra: o seu fim aí está, um fim natural e que, com alguma naturalidade se aceita, sem mágoa justificada, sem discussão válida, sem desnecessário saudosismo, antes com exacerbada alegria.
...No entanto, embora leve, sempre um amargo de alma nos fica ao vermos desaparecer um local a que nos habituamos ao longo dos anos.
...Hoje, ao afastar-nos daquele velho "pelado", não podemos deixar de parar, por instantes, de nos voltarmos para trás e de lhe deitarmos um olhar de nostálgica simpatia...».
O Freamunde despediu-se, em beleza, com uma vitória (1-0) sobre o Felgueiras. Paulo Fernando ficará na história como o artilheiro que rubricou, no grupo de honra, o derradeiro golo na terra batida do "Carvalhal".


Equipa do último "derby" no "Carvalhal" - Freamunde/P.Ferreira (3-0)
Em cima: Vasco - Bráulio - Paulo Fernando - Marcos António - Pedro Barbosa - José Nuno Amaro
Em baixo: Carlitos - Avelino - Luís Filipe - David - Américo 
 

É claro que a actividade futebolística aqui continuou ao serviço da formação, por mais algum tempo. Por mais seis anos.

E depois, para quem ficou o terreno?
No início da época 1990/1991 o passivo do clube - dizia-se - era de aproximadamente 23.000 contos. Uma fortuna.
Toda a "massa" para cobrir os encargos, ou grande parte dela, tinha saído do bolso do presidente Alfredo Barbosa de Bessa - dizia-se.
Os prejuízos acumulados conduziram a um total que pela sua dimensão podia colocar em causa a Agremiação.
Numa célebre Assembleia Geral, realizada no salão nobre dos Bombeiros Voluntários, o presidente do Freamunde submeteu a apreciação uma proposta da direcção que se consubstanciava no seguinte: a Assembleia Geral reunida dará plenos poderes à direcção da Colectividade para alienar ou onerar o campo do Carvalhal, referindo que a proposta apresentada, e caso houvesse aprovação, seria imediatamente adoptada.
Colocada a votação, a referida proposta foi aprovada por unanimidade, com duas declarações de voto.  
Uma delas versava que a receita proveniente da alienação ou oneração do campo do Carvalhal não fosse toda usada no pagamento de défices de gestão (dívidas do clube), mas que parte dela tivesse aplicação na aquisição ou melhoramentos do património da Instituição. Blá, blá, blá.
Ouviu-se, então, da boca do credor: «Eu, pessoalmente, não tenho ainda nada na minha mão. Possuo apenas uma declaração de dívida do Sport Clube de Freamunde. O objectivo passa por rentabilizar o património do clube. A área dá para construir 56 apartamentos e 18 lojas. Se alguém quiser comprar a parte que me cabe para liquidar a dívida - socorri-me da banca -, entrega-me 70% do constante da declaração e eu perdoo o resto». Blá, blá, blá.
A realidade foi esta: face aos valores em causa, o "Carvalhal" passou, naturalmente?, sem "ondas", para as mãos de Alfredo Barbosa de Bessa.
Assim, sem mais nem menos!...
O que poderia ser zona desportiva (piscina, "court" de ténis, circuito de manutenção...), transformou-se num negócio imobiliário.
Anos depois, ORM escreveu no "Fredemundus": «A vida do povo é um cesto de afectividades. À noite, na Gandarela, o amor gerou centenas e centenas de freamundenses que tinham no campo do Carvalhal, o "ex-líbris" do seu bairrismo, a marca genética da sua origem, as páginas da sua história social e desportiva. No campo do Carvalhal não se jogava apenas à bola, nesse humilde campo de futebol sentia-se e vivia-se Freamunde no seu todo comunitário. O coração de Freamunde pulsava ali, a alma de Freamunde subia para o alto no eflúvio de suor dos seus jogadores e expandia-se com os gritos dos adeptos no clímax do jogo.
O "Carvalhal" era o peito do nosso coração, hoje é um pesadelo urbanístico.
É impensável que no chão que nos deu as maiores emoções colectivas e glórias bairristas estejam dois monstros de cimento armado esmagando as páginas mais fervorosas do nosso sentimento e dos nossos feitos».
Pois é!...
Dia 23 de Junho de 1996. Freamunde/Candal, em Juvenis. Último jogo do mini-campeonato para o apuramento de campeão distrital.

Juvenis - Campeões distritais época 95/96

Os "meninos" de Emiliano Ribeiro não estiveram com meias medidas e bateram o adversário por concludentes 4-0.
Quando o árbitro silvou pela última vez, houve invasão de campo. Viveram-se momentos de muita alegria. Alegria, sim, porque o futuro se adivinhava risonho, mas triste, muito triste, pelo destino do "Carvalhal" que chegara ao fim.


Depois deste momento de alegria, após o termo do jogo  Freamunde/Candal, em Juvenis, o "Carvalhal" "finou-se".

Naquele dia, quando abandonámos o "Carvalhal", velhinho e obsoleto, muitas lágrimas de saudade chegaram aos nossos olhos.

Invadiu-nos uma sensação de vazio, de revolta. Afinal, as coisas poderiam ter levado outro rumo, poderia ter-se legado o espaço para outros fins, sempre ligados ao fenómeno desportivo, mesmo sabendo perfeitamente que os tempos são de mudança, não se padecem de sentimentalismos.
Na hora da demolição, algo de muito forte se sentiu. Por cada bocado da sua estrutura física que desaparecia, vinham-me à memória os "penaltys" do João Taipa, as fintas do Ernesto, as "bombas" do Venâncio, as defesas do Miguel, as derrotas (poucas), as vitórias (muitas), os títulos.
Foi já há algum tempo.
Continuo a passar por lá diariamente, sempre confrontado com os enormes blocos de cimento armado, inexpugnáveis. Ao lado dos "mamarrachos" ainda resta sinais perenes da derrocada do espaço mítico: uma pequena estrutura dos balneários - consumidos por vários anos de abandono -, o velho carvalho e alguns muros, cobertos de musgo e envoltos em silvas, únicas testemunhas das imensas tardes de glória.
Ainda o sinto ali, naquele sítio, eternamente. Ah, a nostalgia do "Carvalhal"!...


O que resta dos antigos balneários



O "velho" carvalho ainda resiste 


segunda-feira, 17 de junho de 2019

"VIAGEM PELO TEMPO", por Joaquim Pinto (2)

SPORT CLUBE DE FREAMUNDE
"HISTÓRIAS E LEMBRANÇAS ÚNICAS" (1)



"A PRIMEIRA EQUIPA "

Querendo premiar os dotes futebolísticos dos jovens que no largo da Feira, rua ou terrenos baldios se entretinham a pontapear a bola trapeira, o carismático Padre Castro, aliciado pela emoção desse jogo e conhecedor que o futebol atraía o operariado e a juventude, toma a seu cargo o plano organizativo para a constituição de um grupo de futebol, pois nas redondezas já havia clubes similares.


Padre Castro

Padre Castro, sempre estimulado e auxiliado por bairristas inteiramente disponíveis desta terra, tais como Dr. António Chaves, Armando de Oliveira, Alexandrino Alves da Cruz, Francisco Carneiro, Adolfo Pereira, Américo Ferreira Taipa, José António Chamusca..., referências que se desdobravam no dirigismo do Clube e que faziam de tudo: jogavam se preciso fosse, treinavam, eram roupeiros, massagistas, aguadeiros e mesmo árbitros.



Armando Oliveira



Américo Taipa



Adolfo Pereira


José António Chamusca

É claro que estes nomes "arrastaram" outros que a justiça obrigaria a incluir mas que, lamentavelmente, terei que omitir face aos poucos livros ou documentos que se salvaram das "andanças" em que as diversas Sedes se envolveram ao longo dos anos.
O Clube seria, pois, forjado nas entranhas da "Fábrica Grande". Uma espécie de "CUF", do Barreiro.
Os jogadores, esses, eram atraídos pela oferta de um posto de trabalho (apresentavam-se às dezenas e dezenas os pretendentes que ambicionavam integrar os quadros da "Albar", num meio exclusivamente rural, pobre) ou escolhidos maioritariamente no seio dos operários que na empresa laboravam.


Operários da "Fábrica Grande"

Estávamos nos primórdios da década de trinta do século passado. Jogava-se em qualquer lado. De tralha aos ombros, botas a tiracolo, gorro ou chapéu na cabeça, fato domingueiro lá iam os atletas, indiferentes aos quilómetros, percorrendo a pé até povoações circunvizinhas (Covas, Lagoas, Sobrosa, Paços...) para defrontarem os adversários em renhidos confrontos.
O Padre Castro não uniu vontades para aquisição da primeira bola, redes para as balizas... Tudo saiu dos "fundos" da "Fábrica Grande".
Nesse tempo os equipamentos - quando existiam - quase não tinham modelo nem cores bem definidas. António "Filipe" , sapateiro de profissão com pequeno aposento na Praça, era um dos principais entusiastas, consertando, de forma gratuita, as botas (?) existentes.


António "Filipe"

Sem um organismo tipo Associação, os grupos desafiavam-se, jogavam e depois vinha a desforra. Ninguém repudiava sacrifícios, corria-se por gosto.
Não havia  lugar para guardarem a roupa, muito menos a existência de água quente para se lavarem, como é lógico. Por isso recorriam aos poços existentes nas imediações dos campos de jogo, de onde alguns assistentes retiravam a água com um balde, despejando-a depois pela cabeça abaixo dos heróicos pontapeadores do couro.
Não fazia diferença o tamanho do espaço ou o comportamento do público. Os jogos não contavam para nenhuma classificação, vivendo-se, por um só dia, as vitórias ou as derrotas. Ganhar era apenas, e só, um prazer de espírito.
Chegado o momento histórico da fundação do Clube - 19 de Março de 1933 -, surgiria então o primeiro "team" oficial do Freamunde Sport Club, baptizado de "Onze Vermelhos".


"Onze Vermelhos"
Em Cima: Adolfo Pereira (Dirigente) - Adelino "da Claudina" - António "Bica" - Joaquim Pinto - Moreirinha - António "Careca" - Neca "da Couta" - Juca "Careca"
Em baixo: Zé "Careca" - Zé "Bica" - Alberto "Botas" - Cândido Pinheiro - Arnaldo Pinheiro

Qual a razão da escolha de camisola branca com risca horizontal vermelha, calções vermelhos e meias supostamente pretas? Talvez porque o vermelho tinha por fito traduzir alegria e vivacidade nas lutas. Uma combinação que homenageava a cor do proletariado rural. 
Mas o "Estado Novo", regime concebido e integralmente desenhado por António de Oliveira Salazar, a viver um período de fulgor, resolveu actuar, mexer, "banindo" pura e simplesmente a palavra vermelho na denominação de várias Agremiações. 
Também levámos por tabela, como é bom de perceber. A partir daí só "Freamunde Sport Club" (Em 1945, por determinação superior a Agremiação passou a denominar-se "Sport Clube Freamunde").


46/47 - Amaro "da Cavada" - João "Cherina" - Zeca "Mirra" - Agostinho Machado "Barroco" - Casimiro "Russo" - José Maria "da Couta" - Belmiro "da Riqueta" - Quim "Bica" - Adão Viana - João Taipa - Hercílio Valente 

Segundo informações recolhidas em alguns "sites", casos idênticos aconteceram. No Clube Desportivo das Aves, por exemplo, corria a época 1931/1932, as equipas de honra e reservas eram denominadas de "Onze Vermelhos das Aves", por analogia com o nome atribuído  à Selecção Belga de Futebol, na altura "Onze Diabos Vermelhos".
Tal denominação sofreria alteração para Clube Desportivo das Aves, por «recomendação das autoridades oficiais da época, que alicerçaram a sua "sugestão" por entenderem que a designação inicial tinha "conotações comunistas"».
No Sport Lisboa e Benfica, os atletas passaram a ser designados de encarnados evitando, assim, "confusões" com os soviéticos.
Até o 1º hino, o verdadeiro hino do Benfica, composto por Félix Bermudes em 1929, com música de Alves Coelho (pai), denominado "Avante, Avante p'lo Benfica" foi sendo progressivamente silenciado.

Refrão do hino (interpretado na primeira apresentação pelo Orfeão Sport Lisboa e Benfica):
Avante, avante pelo Benfica
Que numa aura triunfante Glorifica!
E vós, ó rapazes, com fogo sagrado,
Honrai agora os ases
Que nos honraram no passado!

No dia 11 de Abril de 1953, no II Sarau Artístico no Pavilhão dos Desportos (Bodas de Ouro do Clube), com letra de Paulino Gomes Júnior (Dr), director do jornal "O Benfica", o tenor Luís Piçarra deu voz ao hino que ainda perdura, "Ser benfiquista...". 







sábado, 8 de junho de 2019

"VIAGEM PELO TEMPO", por Joaquim Pinto (1)




SPORT CLUBE DE FREAMUNDE: UM CLUBE ESPECIAL


 




As "coisas" estiveram mesmo feias! Estiveram por um fio!...
O clube, moribundo (esteve ligado à máquina com leves sinais de si), atravessou, há anos atrás, o período mais negro da sua história. Iria sucumbir, com estrondo, tal como outros emblemas, e não foram (e continuam a ser) assim tão poucos? Apenas nos restariam memórias? Era preciso ter muita fé. As gentes de Freamunde sempre lutaram até ao limite das suas forças. Nunca se "agacharam".
A verdade é que o S.C. Freamunde, à altura, tinha boas infraestruturas, mas não deixava de parecer "palacete" de fidalgo arruinado,  aqui e ali com sinais evidentes de desleixo, abandono.
Tudo devido às ditas "continhas", assustadoras. O passivo havia aumentado descontroladamente no decorrer desses anos.
As dívidas começavam a "minar" os alicerces que ameaçavam ceder face à podridão. O "fundo" adivinhava-se próximo.
Como foi possível chegar a este ponto?!... Pois!...
Contudo, que interessa agora responsabilizar, citar os "culpados", os "concretos" culpados! Também nos podem, a nós, associados (salvo raras excepções), incluir no "saco" por passividade, indiferença...
A verdade, porém, é esta, doa a quem doer: alguns anos consecutivos de gestão desgovernada - irresponsabilidade, negligência, falta de rigor, essencialmente... Ou ambição desmedida? - deram início ao descalabro, ao calvário freamundense.




A falta de maior apoio financeiro por parte da autarquia ( a denominada "lei dos compromissos" impossibilitava-o) não pode ser considerada a génese da derrocada. 
Os dirigentes deixaram-se "levar" até à última - foi a ideia que nos transmitiram - por parcerias estranhas, e, quando acordaram ( o sono foi profundo), o fosso entre o que poderiam receber e o que tinham a pagar era enorme.
Só com "pressões" de vários "quadrantes", alguns responsáveis diretivos, numa das "célebres" assembleias gerais, levantaram um pouco o véu sobre a situação do clube. 
As contas foram sempre, ou quase sempre, "assinadas de cruz" pelos presidentes do Conselho Fiscal. Quando assim era...
Os "casos", bem ou mal expostos, acabariam aqui se...
Expliquemos: impedido o clube de inscrever jogadores, o futebol sénior esteve na iminência de acabar. Ninguém aparecia, ninguém se mexia para resolver, com urgência máxima, dívidas a ex-atletas, treinadores, funcionários, fornecedores.... Fisco, segurança social... Penhoras atrás de penhoras... A lista de credores era enorme. 
Esfumavam-se todas as tentativas de sobrevivência.
Só "lunáticos" pegavam nesta situação e a solucionavam. Parcialmente, que fosse. Apareceu um, de todo inesperado (Ernâni Cardoso), mas de nada valeu. Mesmo insistindo com novo mandato. Foi pior a emenda que o soneto. O "pobre" do Ernâni já se deve ter arrependido deste ato de coragem, sei lá quantas vezes!
Antigamente (outros tempos "Dª Rosa", outros tempos!), abdicar era trair o clube. As dificuldades eram superadas com trabalho e paixão, traços que sempre caracterizaram a gente bairrista, por natureza, desta terra. Não só desta terra. O Freamunde nunca foi um clube somente da "Vila". Era querido por dezenas e dezenas de adeptos de todas as freguesias do concelho. Agora...!
O período era tão conturbado, as dificuldades eram tão grandes que até o espírito clubístico podia "esvair-se". 
Os sócios já nem pressão exerciam se os resultados desportivos não surgissem. Queriam (e continuam a querer), isso sim, ver o clube estabilizado financeiramente, prioridade das prioridades. 
Por estranho que pareça, as "coisas" lá foram andando, os dirigentes que resistiram desdobraram-se em esforços, até à demissão em bloco, a paixão dos "fiéis" adeptos continuou (até deu a impressão que aumentou), o grupo sentiu-se apoiado, sempre na "luta"...
Animavam-se de novo as hostes...
No meio de tudo isto, ficava, entretanto, a pergunta: haveria futuro para o S.C. Freamunde?   É que o "inevitável", o "fim", espreitava em cada esquina.
"Milagre" precisava-se.





Esgotadas todas as possibilidades de eleição diretiva, de resolução dos graves problemas financeiros, se a solução tivesse mesmo que passar pela insolvência (a hipótese mais viável, para alguns), o clube, a partir da última divisão distrital, poderia subir de novo ao relvado, ao sintético ou ao... pelado. Tal como as equipas da formação. Sem o nome original, iria, certamente, manter a camisola azul. O genuíno emblema colado ao peito, esse...
Se a mística se mantivesse já não seria mau.
Uma coisa era certa: o Freamunde seria sempre, mas sempre, lembrado, julgado, como queiram, pelo seu passado tantas vezes glorioso e não apenas pela fraqueza do momento.
Porém, aconteceu a aparição do tão ansiado "milagre": um grupo de jovens, com o sangue quente e azul a ferver-lhes nas veias, apresentou-se a sufrágio (o Ernâni insistia...insistia..., entendia que poderia prosseguir) e a lista, apresentada na assembleia geral mais concorrida de sempre, exemplo de vitalidade clubística, venceu a opositora de forma clara e inequívoca. Todos acreditavam no ressurgir da "alma". Os associados, depois da angústia, sentiram-se aliviados. Era o recomeçar de um novo ciclo. A partir da última divisão distrital, é certo. Que interessava?! Estava (isso sim, isso é que era o mais importante) recuperada a mística. O clube mantinha a sua identidade.
O "perigo" está a passar, e novos e melhores dias nos aguardam. Um degrau já foi transposto. 
Os membros diretivos têm demonstrado caráter, ambição, responsabilidade... Muita paixão. Muita "obra". Nós, freamundenses, devemos-lhes rasgados elogios. Aconteça o que acontecer daqui para a frente.
Nostalgicamente, e porque é mais difícil fazer história do que falar dela, vou pela via mais fácil redescobrir alguns momentos que andavam perdidos nas minhas memórias, no "baú" do clube, alguns "fora" do livro "Sport Clube de Freamunde - Vida e Glória", estabelecendo um contacto mais íntimo com os associados, e colocá-los pontualmente à disposição dos interessados no blogue "Freamunde: factos e figuras". Uma espécie de boletim, arquivo histórico de toda a vida associativa. 
Uma espécie de "viagem pelo tempo". Um magnífico estímulo para os jovens, os grandes representantes do clube de amanhã.
Mantenham-se atentos, até porque abordaremos, ao longo de vários meses (os necessários), não só o futebol mas muito do que está relacionado com Freamunde.