quarta-feira, 16 de outubro de 2024

"TEATRO" EM FREAMUNDE - MAIS DE 100 ANOS DE HISTÓRIAS (5)

 Continuação:




Delfina Gomes











    O êxito dos espectáculos anteriores levou a algumas alterações arrojadas, como, por exemplo, a junção de jovens do sexo feminino ao grupo, como se pode verificar na composição do elenco. Surpresas agradibilíssimas, as actrizes Brasina Pereira Gomes e Delfina Gomes, que, segundo o noticiado, «...impressionaram não só pela correcção da dicção como pelo tratamento, pela confiança e desenvoltura em palco».

    Surpresas porque a maioria das mulheres, na altura, eram inibidas por pesadas convicções. Não tinham, por exemplo, sequer direito a voto. As que liam, que tentavam instruir-se, eram consideradas perigosas. Estavam apenas confinadas ao espaço doméstico e à obediência ao marido, a prestarem-se somente a ser esposas e mães. As mulheres quase não participavam na vida social, religiosa e política do País. Porém, estas jovens e "corajosas" senhoras cedo despertaram para o sentido cívico que só muito mais tarde se tornou uma realidade incontestável nos direitos femininos em Portugal, rompendo com as convenções e projectando o futuro, movimentando-se, pois, facilmente no ambiente, num universo exclusivamente masculino, época de machismo bota de elástico.

    Uma autêntica pedrada no "charco" da hipócrita moral burguesa.

    Mas... porquê estas e não outras mulheres?! Uma questão de hereditariedade cultural, talvez! Brasina Gomes era, simplesmente, filha do maestro Augusto Pereira Gomes, e Delfina Gomes, filha do também regente Francisco Gomes "d'Aveleda", mais tarde casada com o sub/regente José Nogueira Nunes. Mãe, portanto, de Antonino Nogueira Nunes "Toninho Nogueira", saudoso regente da Banda de Freamunde na década de sessenta, principalmente.

    No dia de Natal (25-12-1903), conforme reza o JPF, «...programa atraente, variado e brilhantíssimo, na estreia em 1 acto, das comédias, "O Médico Mania", "Os Estroinas", "A Hospedeira do Tio Anastácio", "Um Julgamento no Samouco" e "Os Dous Surdos"; Ainda um dueto hilariante, "Sacrista e Migalha" e uma cena cómica, "O Limpa Chaminés".

Pelo meio, récitas abrilhantadas pela Tuna Freamundense».





 

    Em 1904, Alexandrino Maria Chaves Ferreira Velho, acabado de casar, em segundas núpcias, com Ernestina Rego, passou a "pasta" de ensaiador a Henrique António Pinto de Vasconcelos, com alguma propensão e jeito para o cargo, num período em que se vivia um movimento cultural agitado pelas realidades políticas e sociais.

    Serviram-se mais comédias: "Malditas Letras", "Deuses Teimosos", "Pst...Pst...", "Amores de Leoa", "Gostos e Manias" e "Aninhas e Zé da Horta".




 



    A "política" mandava e o teatro cá pelos burgos estagnou durante uns tempos. O País agonizava à beira da bancarrota e com a pobreza existente era difícil ao povo compreender o... teatro.

    Em 1907, no período do hiato cénico, agravado, em 13-07, com a morte do pai do líder do grupo, o "Morgado da Feira", Henrique Pinto de Vasconcelos Abreu e Lima, foi convidada uma companhia de teatro lisboeta para representações na ASMF.

    O jornal "Progresso de Paços de Ferreira" (de tendência progressista/monárquica, nas bancas para "combater" o rival "Jornal de Paços de Ferreira, todo de cariz republicano) apressou-se a narrar o acontecimento: «No dia 2 de Julho de 1907, na ASMF, espectáculo dado pelos conhecidos artistas dos theatros de Lisboa, Alfredo Campos e Maria Pinto.

    Vão à cena as comédias em 1 acto, "Amor por annexms", "Cada Doido!!!" e "Ditoso Fado".

    Também as cançonetas, "Caluda José" e "Flores de Maio".

    Novas representações no dia 7 do mesmo mês com as comédias, "Pragas de Um Capitão", "Cada Doido!...", "Portugal e Hespanha", e as mimosas cançonetas, "A Alfacinha" e "Serenata de Amor".

    Abrilhanta o espectáculo a orquestra do senhor Nunes».

    O teatro, como se depreende, continuava a ser "servido" à luz do dia ou da candeia.

    No entanto, as ruas mais centrais de Freamunde passaram a ser iluminadas por 24 candeeiros a gás de "acetylene". A inauguração aconteceu no dia das festividades em honra do Mártir S. Sebastião (13-07). O melhoramento, importante numa fase difícil do País, deu que falar...

    Sem subsídios da autarquia, completamente descapitalizada e hostil aos legítimos interesses dos habitantes desta terra (nem os constantes "murros" na mesa de António José de Brito convenceram os colegas edis), foi nomeada, em Freamunde, uma Comissão de gente bairrista, por um espaço de três anos, que através de donativos oferecidos à Junta proporcionou a colocação e sustentação dos referidos lampiões.

Continua: 

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