domingo, 22 de setembro de 2024

"VIAGEM PELO TEMPO", por Joaquim Pinto (10)


FREAMUNDE/PAÇOS - "DEBYS" ETERNOS (9)

ÉPOCA 69/70




O Freamunde, de novo comandado por Rola, composto essencialmente pela "prata da casa", agora mais audaz, mais disciplinado, mais consistente, dava totais garantias.
Em pleno campeonato da 1ª divisão distrital, após sete jornadas disputadas, seis vitórias alcançadas e apenas um empate consentido.
A prova dos nove estava marcada para a "Cavada".
As "idas" a Paços eram sempre acontecimentos especiais.
O espectáculo, ensurdecedor, alegre, arrebatador, começava uma semana antes, nas tertúlias dos cafés e tascos, e só terminava na madrugada de Domingo.
Muito cedo se iniciavam os preparativos, sempre frenéticos, para o assalto ao campo da Cavada". Nunca em automóvel, motorizada ou bicicleta, mas a "penates", em massas compactas, que atingiam números impressionantes.
Era Freamunde em peso. Ninguém ousava faltar.
Após o almoço toda a malta, heterogénea, se mobilizava.
Cartazes, bandeiras, cachecóis, apitos e até foguetes emprestavam à comitiva azul um ambiente divertido, eufórico, de fé. Com final feliz, acreditava-se.
O grito Fre-a-mun-de, Fre-a-mun-de, saía, sem parar, das gargantas afinadas de milhares de pessoas - muitas senhoras e raparigas, incluídas - que a todos contagiava.
A primeira "recepção" deu-se na "Baiúca". Alguma confusãozita mas... nada de relevante, afinal. Já era bom sinal.


Chegados à "Cavada", o campo achava-se cheio como um ovo. Mais de 4.500 os assistentes, ávidos e impacientes.
Pimentel Garcia, do Porto, era o árbitro.
Entraram as equipas assim constituídas:


Paços de Ferreira:
Em cima: Vieira, Sousa, Covinhas, Reinaldo, Abílio, Carlos Alves, Zé, Da Silva, Mendes

Em baixo: Pimenta, Canavarro, Dias, Jaime, Quim , Pelezinho, Gonçalves e Santos (Massagista)



Paços de Ferreira: Vieira, Abílio, Arlindo, Gonzalez e Monteiro; Jaime e Carneiro; Correia, Canavarro, Pimenta e José Maria "do Talho".
Treinador/Jogador: Gonzalez






S.C. Freamunde
Em cima: Júlio Regadas (Dirigente), Miguel, Ribeiro, Júlio "Guerra", Barbosa, Jacinto, Fernando Viana, Dr. Fernando Cruz (Médico), Fernando Leal (Presidente), Abel e Agostinho "Rita.
Em baixo: Augusto "do Américo", Chile, Couto, Ernesto, Venâncio, Humberto e Albino "Malapeiro"

Freamunde: Miguel, Ribeiro, Barbosa, Júlio "Guerra" e Luís Afonso; Fernando Viana e Jacinto; Daniel Barbosa, Venâncio, Abel e Ernesto.
Treinador: Rola










O ambiente era impressionante, pleno de emoção.
Lá dentro, os jogadores acompanhavam essa "onda". Não lhes faltava força física, sequer vontade ou empenho.
O Paços tinha o Gonzalez, o Monteiro, o Canavarro, o Pimenta e o "nosso" José Maria "do Talho", é verdade. Mas... não tinha o Abel, Venâncio, Ernesto e Companhia, mais o tal... amor à camisola, que superava algumas insuficiências.
Aos pacenses assaltava-os um certo fatalismo, nos próprios jogadores e massa adepta.
Cinco, dez, vinte minutos e... nada.
Aos trinta, explodiu um "bruá" súbito, intenso, que se ouviu em Freamunde.
Foi o esperado momento mágico: o golo.
Abel, sempre ele, sentenciava a partida. A lógica imperou e de lá regressamos de novo vencedores. A tradição tinha peso e ainda não fora desta que os pacenses levaram de vencida o "rival".




No final foi de louvar e enaltecer o exemplo de desportivismo que todos deram, atletas e assistentes, reconhecendo o merecimento da vitória dos "azuis e brancos".
Só o árbitro destoou: Como foi possível, para desafio de tamanha importância, terem nomeado Pimentel Garcia, juiz do famigerado encontro de 67/68, Candal/Freamunde, de peripécias bem conhecidas e que culminou na irradiação de Quintela?!...
O Freamunde, mesmo sentindo-se prejudicado, venceu, caso contrário... estamos mesmo a imaginar o que poderia ter acontecido. Não havia necessidade.
O futebol, no entanto, tinha destas coisas: esquecia dores profundas e curava feridas de muitos "pontapés" na vida.
Acabou ali, prematuramente, a festa? Longe disso!
Cá fora assistia-se ainda a cenas de exaltado fervor clubista.
Depois lá se teve de cumprir a via sacra em sentido contrário - um bom bocado para calcorrear -, bem mais contentes do que tristes, como é bom de ver.
O regresso foi apoteótico. Bonito e animadíssimo. Como delirante foi essa noite, "alimentada" por umas iscas de bacalhau e sempre, sempre com um néctar muito azulado a condizer.

      XXX

O Freamunde despachava a concorrência rumo ao título.
Até "lá", outra vez os "vizinhos" no caminho do Freamunde.
Desta feita o "combate" tinha por palco o campo do "Carvalhal". O entusiasmo era colossal. Lá dentro comprimia-se compacta multidão que excedia a normal lotação do recinto.
Os adeptos do Freamunde davam - outra coisa não seria de esperar - uma prova estupenda de confiança na sua equipa, arrastando ao local do prélio milhares de entusiastas, 4.500 aproximadamente.
Mas, muitos, muitos outros - eram na sua maioria pobretas, não tinham cheta - se acantonavam no "terceiro anel" do monte d'Acheira. Os tempos estavam difíceis e havia famílias para sustentar.



No meio de tamanha confusão, defendia-se a carteira pois, causticados pelo gamanço que imperava, mesmo avisados e acostumados, não faltava quem se aproveitasse do descuido do "parceiro".
Os adeptos mais nervosos passeavam nas redondezas do campo - quem não se lembra do Valentim "Faneco", para lá e para cá, a fumar cigarro atrás de cigarro, sempre à escuta" de alguma manifestação mais ruidosa que indiciasse alteração no marcador!
De quando em vez, uma espreitadela pelos buracos da porta de entrada e nova escapadela para lugares mais recônditos.
Perfilaram as equipas que haveriam de evoluir com os seguintes elementos:


Freamunde: Miguel, Ribeiro, Júlio "Guerra", Barbosa e Albino "Malapeiro"; Fernando Viana e Chile; Abel, Venâncio, Luís Afonso (Augusto) e Ernesto.
Treinador: Rola




Paços de Ferreira: Vieira, Abílio, Rola, Gonzalez e Reinaldo; Jaime e Monteiro; Carlos Alberto, Pimenta, Canavarro e Sousa.
Treinador/Jogador: Gonzalez





Às 15,00 horas, em ponto, o árbitro portuense Joselino do Carmo apitava para o início do escaldante encontro.
A forte ventania que se fazia sentir não ajudava ao espectáculo.
Os pacenses viviam ainda um cenário de sonho e optimismo mas tudo se transformou em terrível pesadelo que deixou o grupo de rastos.
A vinte e três minutos do final do encontro, Abel, o desmancha prazeres, apontava, com o oportunismo que se lhe reconhecia, o primeiro e único golo da partida.
Os "vizinhos" saíram novamente com as mãos a abanar. O Freamunde tinha ganho mais uma vez. O mesmo é dizer que o "outro" perdera, como sempre.




Glória aos freamundenses, de corações quentes e rostos cobertos de suor, que representaram com brilhantismo o azul das suas camisolas, e honra aos pacenses pelo brio, garra e correcção que colocaram em campo e pela forma ordeira, sem azedume, como aceitaram a derrota do eterno rival.
A vitória do Freamunde foi o empurrão que faltava para a conquista do título, que veio a acontecer.


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