terça-feira, 10 de dezembro de 2024

"TEATRO" EM FREAMUNDE - MAIS DE 100 ANOS DE HISTÓRIAS (2)

 Continuação:


Alexandrino Chaves Velho
















    Os primeiros ecos do chamado teatro "livre e moderno" surgem-nos em Março de 1896. «A companhia "Troupe d'Amadores Dramáticos Freamundense", estreia no dia 15, no Teatro Artístico, com abordagem a obras de autores desconhecidos, o drama em três actos, "Leonardo, o Pescador" e a chistosa comédia em 1 acto, "Quem tem dinheiro... tem medo". O "empresário" - entenda-se Alexandrino Chaves Velho, também encenador, senhor de trato fino, exigente e superior cultura, de quem a ideia, original, tinha partido e que pelos vistos resultou bem - «vai prevenir o bello  sexo que só é permitido às senhoras mais idosas apresentarem-se de chapéo n'aquelle Theatro, porque os chapelletes estorvam a vista dos espectadores».

    Os bilhetes de ingresso, cujos preços variavam entre 60 réis para a geral, 100 réis para cadeiras e 200 réis para a superior, encontravam-se à venda nos estabelecimentos de José Pinto Pereira Gomes "Zezinho da Casimira", em S. Francisco; António José de Brito; Manuel Nunes Oliveira e na Farmácia Barros.

    Do espectáculo, a impressão foi das melhores, analisado assim pelo correspondente, não identificado, do JPF, na sua edição de 28 de Março: «Existe em todos os amadores a melhor vontade como igualmente existem rapazes de habilidade. Muito nos agradaram, sem desmerecer outros, os amadores Joaquim Ramos, Maximino Carneiro Pinto e António Joaquim Ribeiro, nos papeis dificílimos que desempenharam. Avante, pois, rapazes, nesse caminho de civilização que mais tarde encontrareis o fruto dessa vossa vontade e desse tão inofensivo e útil divertimento».

    Dá para perceber, pois, que um dos aspectos mais significativos foi a existência de um conjunto de amadores, extremamente vivos e criativos, que iniciaram participação apaixonada na actividade teatral... Que lhes enriquecia as suas vidas banais.

    Abria-se definitivamente o pano.



    Para o dia 19 de Março de 1897 estava previsto o lançamento da 1ª pedra do edifício da Associação de Socorros Mútuos Freamundense.

    A génese da "Troupe d'Amadores Dramáticos" tinha, inicialmente, um único fito que a orientava: invenção de receitas que pusessem cobro às enormes despesas com as ditas obras, intrincado problema e questão de fundo que não era respondido pelos políticos de antanho por falta de verbas. Aliás, e como alguns historiadores referiram, é de crer que o gosto pela representação teatral em Freamunde geminou no afã de angariar fundos para esta Associação.

    Vai daí, mais comédias, pelo Entrudo: "Ceia amargurada"; "Dous tolos felizes" e "Um disparate cómico". «... a casa estava repleta e os inteligentes amadores, Manoel Pinto de Barros, Domingos d'Almeida Caldas, Guilherme Pinto Ribeiro Gomes, Maximino Carneiro Pinto e António Joaquim Ribeiro, bem como o ilustrado ensaiador, Alexandrino Chaves, foram calorosa e entusiasticamente aplaudidos repetidas vezes».




 

    Depois, até ao Natal desse ano de 1897,  outras e outras representações, onde não havia nada nas peças que não fosse irónico, burlesco, caricato. 

    Monólogos e cançonetas: "O Carvalho Santo"; "Manel Zé de Fanhões"; "Catrapuz", "Viram por ahi minha mulher?; "Descarrilar" e "Assim Assim... Axim Axim. Comédias:"O Sacristão"; "A Taluda"; "Um filho para três paes"; "Valentes e medrosos"; "O Intacto"; "Dois Estroinas"; "Um Capitão de lanceiros" «sempre com casa passada, sem um único lugar devoluto, a cujo aturado trabalho, cuidado e boa vontade de Alexandrino Chaves, se deve em grande parte o esplêndido desempenho dos espectáculos dados debaixo da sua zelosa e sabedora direcção daquela casa».




 

    Tiveram, obviamente, de conceber cenários agradáveis, guarda roupa próprio, varrer o chão, distribuir cadeiras, fazerem de bilheteiro, ponto, contra-regra... Nada mais que o dever, para o bem geral da comunidade.

Continua:


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