Continuação:
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D. Mercedes Barros |
Não se julgue, porém, que o teatro era só para adultos. Não. Havia lugar também para os mais pequeninos. O futuro da arte estava, pois, garantido. Ensaiada pela distinta professora oficial desta freguesia, D. Mercedes Barros, saiu-se a "Troupe Infantil" - um projecto aliciante -, com as peças, "A Feiticeira", "A Lição" e "Criadas d'Hoje".
Os "seniores" da "Troupe" também se exibiram no dia 19 de Março de 1923, apresentando as hilariantes comédias-charge, "Taborda no Pombal", "Os Espectros", em 2 actos, "As Novas Ricas" e "Os Phantasmas", em 1 acto, além de canções, duetos...
O ano de 1924 foi recheado de representações, gravitando no elenco grande número de elementos novos.
Para Fernando Pessoa, «a elite da actualidade, no país, a gente ilustrada, era uma súcia de cabotinos... Só obscuros... isto quando, mais do que nunca, a República precisava de homens!...». Porém, em Freamunde continuava a "havê-los". Era já uma terra diferente... Socialmente avançada em relação à vizinhança... Pioneira em tudo o que dissesse respeito a cultura, voluntariado, associativismo, actividades lúdicas...
Vem a lume uma citação de Almeida Garrett (Prefácio a Um Anjo, de Gil Vicente - 1938): «O teatro é um meio de civilização, mas não prospera onde a não há...»
É fácil imaginar, mesmo sem grandes condições infra-estruturais, ver aquela juventude trabalhar com o ardor de todo o principiante que se inicia numa arte que lhe dá prazer. Finalmente, tinham um papel para decorar. Nos ensaios, o pisar do improvisado palco, sentir sob os pés a dureza das tábuas. Chegava o ansiado momento da estreia. Por detrás do pano o nervosismo tornava-se evidente. Soavam as pancadinhas. Depois, a representação, enfim, as palmas. Mais importante do que tudo - já assim seria, certamente, nessas épocas -, as amizades cimentadas por muitas horas de convívio e camaradagem.
Do extenso e diversificado rol de peças apresentadas - quase todas em benefício dos cofres da ASMF -, referenciamos as seguintes: Em Maio de 1924, o drama "Jocelyn, o Pescador de Baleias". Cançonetas, acompanhadas pela Orquestra e Tuna Freamundense, sob regência de Joaquim Augusto Pereira: "As Covinhas do Rosto", por Júlia Pinto d'Almeida; "A Triste Feia", por Olívia Rego; "O Amor é como o Lume", dueto por Brasina Gomes Pereira e Leopoldo Saraiva; "Rosa do Adro", drama em 4 actos, e "Casamento da Grã Duqueza", opereta cómica.
O guarda roupa foi confiado ao afamado "costumier", Valverde, do Porto.
Meses depois, em 28 de Setembro, no programa podia ler-se: Espectáculo dado por um grupo de estudantes em gozo de férias.
1ª parte - "Tavares Crespo" (ilustre pugilista português) e seu discípulo, Luís Torres Peixoto", do Porto, em vários números desportivos.
2ª parte - "O Debute", por José Maria Pinto d'Almeida (monólogo de picante sabor popular).
3ª parte - "Grande e Horrível Crime" (deliciosa comédia em 1 acto, roçando pela farsa). Intérpretes: Henrique Matos (Anacleto), Cândido Pinto de Barros (Leonardo), José Maria Pinto d'Almeida (Rosalino), Vasco Torres (Francisco) e Jaime Brito (Um Agente de Polícia).
4ª parte - "Alma Cheia", por Júlio Graça.
Ao piano , o distinto organista e professor de música, Mário Augusto.
No teatro não havia lugar só para os actores mas também para aqueles que não podendo, ou não o querendo ser, colaboravam noutras actividades: montador de cenários, caracterizador, ponto... Neste último caso, o cargo foi entregue a Alberto Brito.
No dia de Natal, mais teatro. A falta de pessoa habilitada que pudesse dirigir a encenação, empossou o multifacetado "artista", Salvador "Santa Marta". Havia, assim, continuidade rectilínea do Grupo. Estavam, pois, conservadas as tradições já longas do mesmo.
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Salvador "Santa Marta" |
Os freamundenses tiveram, então, a oportunidade de apreciar o drama em 3 actos, "O Misterioso", e um quadro, "Vinte Mil Dólares", com acompanhamento da orquestra dirigida por Joaquim Augusto Pereira Gomes. Quem sai aos seus...
Um novo público se ia formando, num dos períodos de maior intensidade da vida teatral portuguesa.
As diversas transformações políticas operadas no país, sobretudo com a Revolução de 28 de Maio de 1926 que afastou do poder o Partido Democrático e estabeleceu um regime ditatorial, originaram mais um hiato nas representações teatrais até finais de 1927.
No 19 de Março de 1928 voltava a arte de "Talma" à Associação. Pela "Troupe" foram representadas o drama, em 3 actos, "Leão dos Mares", e a comédia , "Morrer para ter dinheiro".
Com o surgimento dos jornais "O Pacense", da sede do concelho, e "Heraldo", de Lousada (Curiosamente, ou talvez não, o fundador e director deste semanário, bem como o editor e secretário, eram, respectivamente, os freamundenses Dr. João Matos da Silva Neto, Joaquim Pinto Pereira Gomes e Libório Pinto), multiplicam-se as referências sobre a actividade teatral.
Assim, no decurso das comemorações do 39º aniversário da ASMF (19-03-1930), foi convidado o Grupo Dramático do Porto "Os Simples", sob direcção de Manoel "Santa Marta" (irmão de Salvador), que levou a efeito, gratuitamente, um espectáculo composto por um drama, "Opressão e Liberdade" (bastante sugestivo o tema, para a época, sem dúvida!), e uma comédia, "Não é o Mel".
Também, em 2 actos, "Rosas de Nossa Senhora", e as engraçadas comédias, "Dois Actores sem Escritura" e "O Homem da Sorte".
Num dos intervalos, fez também a sua "apresentação" o 1º Bombeiro Voluntário de Freamunde.
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1ª Pronto Socorro da AHBVF e respectivo Quartel |
A Orquestra do Clube Recreativo - "atacava" quase sempre nos períodos de pausa para ir animando o pessoal que enchia a plateia -, sob direcção do já mencionado Joaquim Augusto Pereira Gomes, aproveitou a ocasião e estreou-se, tendo, segundo o correspondente do jornal, agradado imenso. Foram constantes as ovações.
Outras representações, de novo com Leopoldo Saraiva ao leme da "Troupe", repetiram-se sete vezes, durante o ano, sempre de forma desinteressada e em prol da terra.
Continua:
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