Festas Sebastianas
Mais um ano...
Mais um ano Freamunde afirma a sua vitalidade, oferecendo a demonstração do seu grande querer, da sua boa vontade, dos seus sentimentos cristãos, do seu vigor obreiro, do seu acrisolado bairrismo sintetizados nestas «Festas Sebastianas», em louvor do Martirizado Romano, que estão alcançando fama assaz desusada, erguendo bem alto o seu nome honrado de trabalhadeira incansável.
Mais um ano a sua alma se ergue em lufadas de boa disposição, de sadia alegria, sem peias nem constrangimento, como só a pode ter quem sente a consciência tranquila e a satisfação do dever cumprido.
Mais um ano, tu, forasteiro amigo, tens a ocasião de avaliar quanto vale um querer, quanto pode uma vontade, até onde chega uma determinação firme.
É que estas festas que Freamunde generosamente te oferece, são o produto de um trabalho insano, profícuo, árduo, inteiramente seu, desacompanhado de qualquer ajuda estranha aos seus filhos, a quem - louvado Deus! -, apesar de tudo, ainda sobra alegria para oferecer aos outros!...
Freamunde é assim: generosa e franca!...
Se já a conheces, bem concordarás com esta afirmação. Se não, vem conhecê-la este ano durante estes festivos dias e, por seu intermédio, encontrarás um povo são e hospitaleiro, um recanto confortável e aprazível, um ambiente acolhedor e grato. Vem ver quanto pode uma firme vontade que outra ajuda não tem a não ser a de Deus, a do Santo a que se devota e a dos seus amantes filhos...
Vem. Cá te esperamos. Lembra-te da velha sabedoria das nações: pela alegria se conhece o povo!
Vem conhecer a alegria de Freamunde, para poderes penetrar na sua alma!...
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Cartaz de 1957 |
programa
13 de Julho
Alvorada - Ruidosa com foguetes e morteiros. Anunciação das «Festas» por um numeroso grupo de Zés P'reiras, Gigantones e Cabeçudos.
Durante o dia funcionará a habitual «Feira dos 13», que se prevê de grande concorrência, dada a excepcional circunstância de ser enquadrada nas «Festas Sebastianas».
14 de Julho
07,00 - Alvorada com estrondoso fogo.
08,00 - Entrada da Banda Marcial de Freamunde..
11,00 - Missa Solene e Festiva, subindo ao púlpito o distinto orador sagrado Padre Moreira Neto. Esta Santa Missa, que será a grande instrumental, terá a colaboração da Banda Marcial de Freamunde e do aplaudido cantor lírico Pais Moreira, acompanhado a orgão pelo distinto prof. Mário Delgado, da Orquestra Sinfónica do Conservatório de Música do Porto, que interpretará «Avé Maria», de Carlo Gounod (integrada ao sagrado texto) e «Agnus-Dei», de Bizet.
15,00 - Entrada da consagrada Banda de Música da Polícia de Segurança Pública do Porto, seguindo-se-lhe a subida aos respectivos coretos destes dois anunciados conjuntos musicais que iniciarão os esperados concertos.
19,00 - Saída da respeitável, majestosa e tradicional Procissão de S. Sebastião na qual se incorporarão numerosas confrarias, Irmandades, Pias Uniões, Associações religiosas, encantadores grupos de anjos e querubins e deslumbrantes andores, precedida por um garboso grupo de Centuriões Romanos.
22,00 - Início do surpreendente Arraial nocturno, com feéricas iluminações do reputado decorador e ornamentador Bernardo Barreira, de Guimarães.
22,30 - Novos concertos musicais pelas Bandas Marcial de Freamunde e da Polícia de Segurança Pública do Porto.
24,00 - Sensacional certame de Fogo de Artifício, pelo conhecido pirotécnico Pontes & Filho, da Raimonda.
02,00 - Encerramento deste festivo dia, com a tradicional e pitoresca corrida de uma bravíssima Vaca de Fogo.
Dia 15 de Julho
15,00 - Diversos divertimentos e números desportivos a anunciar brevemente.
16,00 - Concerto pela Banda Marcial de Freamunde.
21,00 - Entrada dos Ranchos Folclóricos das freguesias circunvizinhas.
21,30 - Início do grandioso Festival Regional que terá lugar em recinto fechado e no qual colaboram os seguintes agrupamentos regionais: Grupo Musical de Abrute, da firma B. Pinto de Moura (Freamunde) - Rancho Folclórico da Arreigada - Rancho Folclórico de Ferreira - Grupo Típico de Figueiró - Rancho Folclórico de Frazão - Grupo Regional da Gandarela (Freamunde) - Grupo Musical de Leigal, da firma L. Menezes (Freamunde) - Rancho Folclórico da Raimonda - Rancho Folclórico de São Fins e o nóvel agrupamento artístico Grupo Folclórico «Mocidade de Paços de Ferreira».
23,00 - Desfile do grandioso e já afamado Cortejo Luminoso e Alegórico no qual se incorporam todos os agrupamentos citados, um numeroso grupo de Gigantones e Cabeçudos, Banda Marcial de Freamunde, atroador grupo de Zés P'reiras, conjuntos infantis de diversos significados e maravilhosos carros ornamentados dos quais se pode anunciar os seguintes, entre outros:
«CONTO DE FADAS» - Um mimoso carro de fantasia carregado de lindas crianças é tirado por um enorme caracol dourado, rumo ao Reino da Ilusão!
«ESPANHA: - MULHERES E TOUROS» - Deslumbrante alegoria à «Festa Brava» plena de Luz, de Cor e de Alegria!
«O MILAGRE DE SANTO ANTÓNIO» - A tradicional fonte, as bilhas quebradas e o prodigioso milagre de Santo Tamaturgo, enquadrados num ambiente de luminosidade e colorido.
«O SONHO DE DANTE» - O sonho do Poeta, a alucinante visão dantesca, toma vulto e forma: a boca do Inferno escancara-se e as suas chamas atraem as Almas Perdidas, invadidas e torturadas pelos Pecados Mortais que as levam em frenesi para a Perdição. Dentro, no local fatal, gritos de desespero são abafados por rumores sinistros, enquanto a vitória demoníaca se consuma num resplendor estranho de fogos vermelhos que se elevam no espaço... Dão ainda o seu concurso algumas firmas comerciais, com carros de publicidade.
24,00 horas - Grandiosa sessão de Fogo de Artifício pelos mesmos pirotécnicos.
As Festas encerrarão com uma nova corrida de uma furiosa Vaca de Fogo.
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Durante os dias de Festas funcionarão: Uma riquíssima Quermesse, com valiosas prendas - A Cantina das Escolas, com serviço de bar e restaurante - O Bar dos Bombeiros Voluntários de Freamunde - Inúmeras diversões tais como, automóveis eléctricos, carrocéis, etc...
curiosidades
Comissão de Honra - Dr. António Chaves (P), Abílio Pacheco de Barros, António Pereira da Costa e Francisco Torres Carneiro.
Comissão Executiva - Fernando Eduardo Ribeiro dos Santos (P), Abílio Fernando Pinto Leal, Nelson Taipa Lopes e Rogério Monteiro.
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Fernando Santos |
Custo global das Festas - 44 contos, aproximadamente.
Factos mais relevantes
O cortejo alegórico teve orientação de Leopoldo Pontes Saraiva com a preciosa colaboração de Maximino "Gordo" e Jaime "Mirra".
Participação dos Zés P'reiras "Gaiteiros de Barcelos" e de "Unhão". Os Cabeçudos e Gigantones foram gentilmente cedidos pelo glorioso Grupo Fenianos Portuense, ao todo 37 figuras que, com a sua alegria e harmonia ensurdecedora percorreu as ruas da vila, pondo em sobressalto os ânimos e predispondo o melhor possível o espírito desse eterno moço que é o Povo... . Os Gigantones foram "carregados" por "Camião de Figueiras" e Chico "Maduro".
In "Gazeta de Paços de Ferreira":
Domingo - «A tradicional e afamada Procissão de S. Sebastião apareceu então em toda a riqueza da sua figuração, deslumbramento dos seus andores e majestade do seu significado. Toda a vila era um imenso tapete de flores, espalhados sob os pés de quantos acompanhavam o Glorioso Romano, em preces fervorosas para que a sua Santa Protecção evite, no conturbado mundo de hoje, a aparição desse monstro horrendo que se chama Guerra! O luzido acompanhamento saiu da Igreja Matriz, passou entre alas imensas de um Povo crente, subiu a «Feira», atravessou a Gandarela - então luzida e fresca, com as suas passadeiras de flores singelas, qual moça garrida em dia de noivado - e, quando desembocou na estrada e a Martirizada Efígie de Sebastião dominou os campos e valados, que se estendiam a seus pés em longes de verdura e serenidades de Dia Santo, o Sol pareceu brilhar mais, as almas sentiram-se mais humildes, os corações elevaram-se mais alto, emotivamente, ansiadamente, espiritualmente, ante o enternecedor espectáculo do Servo Imolado, perante a grandeza da Obra do Seu amo!...
Segunda-feira - Na praça pública uma grande multidão aplaudiu o Festival Regional, espectáculo atraente que, mais uma vez, evidenciou o gosto que felizmente existe por estes certames.
O momento mais pitoresco foi ocupado pela apresentação da antiquíssima Dança dos Pedreiros de acentuado cunho etnográfico e velhas tradições, a qual foi revivida, expressamente para este espectáculo, por um grupo de Ferreira, dirigido pelo sr. Emílio de Carvalho.
Também o grupo de Figueiró, admirável a alma e o espírito do sr. Luís Monteiro, se saiu com uma oportuníssima «Charge» à Volta a Portugal em bicicleta, com as suas peripécias e paixões clubísticas, onde não faltava nada desde o director da corrida ao ardina dos jornais, desde o singular fotógrafo ao médico patusco e carro de apoio, incluindo os corredores que, pelas respectivas barbas que possuíam, denotavam, claramente, serem todos Barbosas...
O festival culminou com a primeira apresentação em Freamunde do já notável Grupo Folclórico «Mocidade de Paços de Ferreira». Merecedor dos maiores encómios, este valioso conjunto foi aplaudidíssimo e mereceu as mais elogiosas referências críticas do enorme auditório.
A sua apresentação em Freamunde, absolutamente gratuita, constitui um nobre gesto que Freamunde jamais esquecerá e denotou um elevado espírito de compreensão que se fica devendo aos seus corpos directivos, nomeadamente os srs Plácido Santos e Manuel da Silva Medeiros, este último ensaiador de grande valia.
"Entrou", pelas escadas do fundo, junto aos tanques e bicas de água da Praça, estreando um hino, pelo grupo composto com a colaboração de Alberto Martins Carneiro "Albertinho Carreiras", então director artístico do Rancho "Rosas de Vilarinho", dedicado exclusivamente a Freamunde e intitulado "Marcha das Sebastianas". (Ainda hoje é considerado o Hino oficial das Sebastianas, cantado a plenos pulmões durante as Grandes Festas, sobretudo no final do concerto das Bandas e durante o percurso do cortejo alegórico, aqui com o "serviço" contratualizado com os Etnográficos de Sanfins - Independente e Citânia) e que toca profundamente todos os freamundenses).
Oh! Freamunde, oh! Festas Sebastianas/Para quem vos vê/Vós sois um espelho/Oh! lindas Festas/que criaste a fama/Vós sois as melhores/Festas do concelho/Oh! Vila de Freamunde/És formosa noite e dia/Tens o S. Sebastião/As feiras de Santo António/E a de Santa Luzia/Oh! Vila de Freamunde/Terra de rara beleza/Tens mobílias escolares/Que fabricam aos milhares/Mostras que és Portuguesa/Tu tens Bombeiros/Música e Grupo de Futebol/Pareces uma cidade/E sempre que tu precises/Cá terás a Mocidade.
Já a noite ia longa, foi o fim do mundo: a vila de Freamunde sentiu-se pequena para albergar todos quantos queriam assistir à apoteose - que o foi! - das Festas Sebastianas. Já passava da 1 hora da madrugada, quando o esperado Cortejo Luminoso e Alegórico se fez anunciar por poderosos morteiros. A custo conseguiu abrir passagem pela imensa mole que o aguardava.
Cálculos? Impossível. Eram milhares de pessoas que, às 5 horas da manhã(!), ainda tinham representantes seus sem arredar pé, ansiosos por mais...
Terminaram estas notáveis Festas Sebastianas, que bem honram o concelho e a actividade do Povo freamundense - vontade de ferro em alma de artistas - com nova sessão de fogo do ar culminando por esplendorosa girândola que coroou de múltiplas cintilações a vila de Freamunde, como rainha, que o é, do Trabalho e acendrado Bairrismo».
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