Festas Sebastianas
O povo é de seu natural folgazão. Talvez que a dura vida o faça assim e que ele espreita, ávido, a mais... pequena trégua da luta em que anda empenhado com a Vida para uma desforra de tanto preocupar. É um talvez quase certo, quase sem dúvida... Mas não é só essa a suprema razão das «Festas Sebastianas» a que vais assistir, amigo leitor: há outra e essa mais forte, obrigatória, a que não há fugir-lhe... Recuemos no tempo. Quanto? Sabe-se lá: cem, duzentos, trezentos anos? Talvez mais... Freamunde sofria... Terrível cataclismo a assolava e martirizava seus filhos, pequenos seres impotentes perante a fatalidade: Peste? Guerra? Fome? Não esta, nunca foi determinado. Algo era de indizivelmente atroz... Dizem que a fé é que nos salva e Ela, uma vez mais salvou Freamunde. Só S. Sebastião, o sagrado Mártir Romano, tinha poderes contra aqueles males, assim pensaram... E assim lhe prometeram grande festa de louvor lhe fazerem todos os segundos domingos dos meses de Julho se o Santo se dignasse volver os seus martirizados olhos para esta minúscula urbe do plaino de Ferreira e afastasse a calamidade. Assim aconteceu e a Fé mais Fé se fez e mais encheu a boa alma das gentes de então, que daí para cá não deixou mais de cumprir o prometido e o legaram de herança aos vindouros. Esta a razão da festa nesta altura do ano, tão afastada do dia da consagração do Santo. Talvez poucos o saibam, talvez nem interessasse sabê-lo: é uma tradição, dizia-se, e a Tradição é mais do que bastante para abafar os porquês... Eis, pois, a verdadeira, a suprema, a enorme razão! O resto, sim: o resto deve ser a tal «aberta» que o povo espera para a desforra da Vida... Aproveita-a tu também, bom leitor, e vem folgar connosco, vem rir e cantar com este Povo, que transforma a Dor em Riso, o Choro em cantigas, a preocupação em «boa-vai-ela»... Vem ver como do Nada se faz Muito e como Freamunde, desamparada e só, ainda consegue gritar: ESTOU VIVA!...
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Cartaz de 1960 |
programa
09 de Julho
Alvorada ruidosa com foguetes e morteiros. Anunciação das «Festas» por numeroso grupo de Zés P'reiras, Gigantones e Cabeçudos.
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Gigantones |
10 de Julho
07,00 - Alvorada com estrondoso fogo.
08,00 - Entrada da Banda Marcial de Freamunde.
11,00 - Missa Solene e Festiva subindo ao púlpito um distinto orador sagrado. Esta Santa Missa, que será a grande instrumental, terá a colaboração da Banda Marcial de Freamunde.
15,00 - Entrada da consagrada Banda de Música de Revelhe (Fafe) seguindo-se a subida aos respectivos coretos destes dois anunciados conjuntos musicais que iniciarão os esperados concertos.
19,00 - Saída da respeitável, majestosa e tradicional Procissão de S. Sebastião na qual se incorporarão numerosas Confrarias, Irmandades, Pias Uniões, Associações religiosas, encantadores grupos de anjos e querubins e deslumbrantes andores, precedida por um garboso grupo de Centuriões Romanos.
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Procissão |
22,00 - Início do surpreendente Arraial nocturno, com feéricas iluminações.
22,30 - Novos concertos musicais pelas Bandas de Freamunde e Revelhe (Fafe).
24,00 - Sensacional certame de Fogo de Artifício pelos conhecidos pirotécnicos Pontes & Filho, Raimonda, e viúva de António Teles, de Paços de Ferreira.
02,00 - Enceramento deste festivo dia, com a tradicional e pitoresca corrida de uma bravíssima Vaca de Fogo.
11 de Julho
15,00 - Diversos divertimentos e números desportivos a anunciar brevemente.
16,00 - Concerto pela Banda Marcial de Freamunde.
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Banda de Freamunde |
18,00 - Entrada dos numerosos Ranchos Folclóricos das freguesias circunvizinhas e concelhos limítrofes.
21,00 - Início do grandioso Festival Regional que terá lugar em recinto fechado.
23,00 - desfile do grandioso e já afamado Cortejo Luminoso e Alegórico no qual se incorporarão todos s agrupamentos citados e um numeroso grupo de Gigantones e Cabeçudos, Banda Marcial de Freamunde, atroador grupo de Zés P'reiras, conjuntos infantis de diversos significados e maravilhosos carros alegóricos.
24,00 - Grandiosa sessão de Fogo de Artifício pelos mesmos pirotécnicos.
As festas encerrarão com uma nova corrida de uma furiosa Vaca de Fogo.
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Durante os dias das Festas funcionarão: Uma riquíssima Quermesse, com valiosas prendas. - A cantina das Escolas, com serviço de bar e restaurante. - O Bar dos Bombeiros Voluntários de Freamunde. - Inúmeras diversões tais como: automóveis eléctricos, carrocéis, etc.
curiosidades
Comissão de Honra - Dr. António Chaves (P), Abílio Pacheco de Barros, António Pereira da Costa, Dr. Amâncio Leão e Padre Ângelo Ferreira Pacheco.
Comissão Executiva - Alfredo Ferreira Rego (P), António Costa Alves, Domingos Ribeiro Taipa e José Pinto Rego.
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Alfredo Rego |
Custo global das Festas - 52 contos, aproximadamente.
Iluminador, Decorador e Ornamentador - António Ribeiro Pontes, da Póvoa do Varzim.
Factos relevantes
Carros alegóricos - Alguns alusivos ao centenário da morte do Infante D. Henrique.
No Festival Folclórico estreou-se o agrupamento local "Rancho da Boavista", fundado por José Silva Malheiro, Juventino Alves e Manuel Ferreira Moreira.
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Rancho da Boavista |
Integrado no programa das festas disputou-se, no campo do Carvalhal, um encontro de futebol entre o Sport Clube de Freamunde, reforçado por Perdigão, jogador do F.C.Porto, e uma selecção de jogadores brasileiros assim constituída: Silva, Caiçara, Humaitá, Elso, Osvaldo Silva, Carlos Alberto, Manuelzinho, Edmur, Jaburú, Ceninho e Celú. Actuaram ainda Pedro e Ernesto.
O grupo da casa, ante a indiscutível valia do opositor, conseguiu um importante empate a 4 bolas.
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