sábado, 2 de agosto de 2025

FESTAS AO MÁRTIR - 1926 - CAPÍTULO XXXVI

 



programa 


Revolução de 28 de Maio de 1926


10 de Julho
12,00 - Estrondosa salva de morteiros.

Durante a tarde, percorrerá toda a povoação um par de monstruosos gigantones, acompanhados por elevado número de atordoadores Zés P'reiras.

No largo da Feira, artisticamente engalanado, dará entrada, pela 1,00 hora da tarde, a apreciada Banda de Freamunde, executando um escolhido programa do seu vasto repertório.



11 de Julho
Alvorada - Salva de morteiros, o contínuo estralejar dos foguetes e os Zés P'reiras, seguindo-se a alvorada pela Banda Freamundense.

Banda Freamundense




11,00 - Início das cerimónias religiosas, subindo ao púlpito o orador sagrado, reverendo pároco de Paredes.

15,00 - Entrada a Banda da Infantaria 32, que alternará com a desta localidade, em lindo coreto, no largo da Feira.

19,00 - Sairá da Igreja Matriz a imponente e majestosa procissão, composta de muitos andores, com belas imagens, lindos anjinhos com ricas figuras e grupos alegóricos ricamente vestidos pela casa Virgílio Marques, da Póvoa do Varzim, arautos, lanceiros, etc., percorrerão o itinerário do costume, por entre ornamentações, flores e bandeiras, com que a arte do bem conhecido e consagrado artista, sr. Lira, de Felgueiras, fará sobressair na beleza natural de toda a povoação.

22,00 - Será lançada uma girândola de foguetes, anunciando o começo do grandioso festival nocturno, maravilhoso e surpreendente, em que milhares de lumes, caprichosa e artisticamente dispostos pelo hábil ornamentista, sr. Constantino Lira, darão a todo o arraial um deslumbrante e feérico realce de arte e beleza.

Numa graciosa barraca, erguida no centro do Mercado, realizar-se-á a quermesse de ricas e numerosas prendas.

Durante o festival será queimado abundante e vistoso fogo de artifício confeccionado por dois afamados pirotécnicos, e lançados lindíssimos aeróstatos.

Em dois coretos, ladeando a Praça do Mercado, brilhantemente iluminada, as duas apreciadas Bandas far-se-ão ouvir em renhido certame, que durará até às 3,00 horas da madrugada.

Final - A festa encerrará com a corrida de 2 vacas de fogo.



curiosidades 
Comissão Executiva - Alfredo da Silva Cabral (Juiz), António Ribeiro, José Ribeiro Martins, Leopoldo Pontes Saraiva e José da Silva Moura.

 A cada festeiro, coube, de "esmola", a quantia de 150$00.

As Festas realizaram-se já em plena  ditadura, após a chamada Revolução de 28 de Maio (insurreição do exército em Braga), um "golpe" militar que levou à queda da I República e abriu caminho à implantação do Estado Novo.


sexta-feira, 1 de agosto de 2025

FESTAS AO MÁRTIR - 1925 - CAPÍTULO XXXV

 



programa 


11 de Julho
12,00 hrs - Salva de morteiros, fazendo-se ouvir, desde logo, um considerado grupo de Zés P'reiras, acompanhados pelos hilariantes gigantones.

13,00 - Entrada no largo da Feira, artisticamente engalanado, da reputada Banda Freamundense, que depois de percorrer as principais artérias da povoação, executará durante a tarde as melhores peças do seu vasto e selecto repertório, no largo do Mercado.


12 de Julho
Alvorada - Salva de 21 morteiros, alvorada por um numeroso grupo de Zés P'reiras, gaitas de foles e Banda de Freamunde.

10,00 - Início das cerimónias religiosas, subindo ao púlpito o distinto orador sagrado, reverendo D. Clemente Ramos, do Porto.

D. Clemente Ramos


15,00 - Chegada da afamada Banda de Revelhe - Fafe, que tão justamente aclamada tem sido em todos os certames a que tem concorrido, e que no último aqui foi vivamente ovacionada.

Das 16,00 às 18,00, concerto pelas duas referidas Bandas.
 
18,30 - Sairá da Igreja Matriz a imponente e majestosa procissão, composta de muitos andores e com belas imagens, lindos anjinhos e ricos grupos alegóricos, vestidos por uma das melhores casas da Póvoa do Varzim.

22,00 - Uma estrondosa girândola de foguetes anunciará o começo do maravilhoso e deslumbrante festival nocturno a que milhares de lumes, profusa e caprichosamente dispostos sob a hábil direcção do consagrado ornamentista, senhor Constantino Lira, de Felgueiras, imprimirão o mais extraordinário realce e surpreendente efeito.

Numa graciosa barraca, erguida no centro da Praça do Mercado, efectuar-se-á a quermesse, organizada por um distinto grupo de senhoras da nossa elite, que para tal tem já recebido muitas e valiosas prendas.

Iniciar-se-á o certame musical em que tomarão parte aquelas duas excelentes Bandas e que se prolongará até às 3,00 horas da madrugada.

Durante o festival, será queimado o mais vistoso fogo preso e do ar, lançando-se, também, muitos e lindos aeróstatos.

Final - Serão corridas duas valentes "vacas"... de fogo!



curiosidades 
Os festeiros pagaram parte do douramento no oratório do Mártir S. Sebastião.

quarta-feira, 30 de julho de 2025

FESTAS AO MÁRTR - 1923 - CAPÍTULO XXXIII

 


programa 


07 de Julho
Alvorada - Estrondosa girândola de 21 tiros, repique de sinos e morteiros.

12,00 - Nova girândola, repique de sinos e morteiros, dando entrada a seguir a tradicional música do "senhor" Zé P'reira, que será constituída por 12 figuras, acompanhando-a os "senhores" gigantones que percorrerão o arraial e as principais ruas que já se encontrarão engalanadas e ornamentadas com vistosos arcos, bandeiras, troféus, plintos, mastros, etc.

15,00 - A afamada Banda Freamundense percorrerá as ruas e praças desta povoação, tocando depois até à noite no respectivo coreto alguns trechos do seu variado e excelente repertório.

Ao anoitecer - Salva de 21 tiros, repique de sinos e morteiros.



08 de Julho
1ª parte
Alvorada - repique de sinos, foguetes e música.

11,00 - Missa solene a grande instrumental pela orquestra da referida Banda Freamundense; S.S. exposto e sermão ao Evangelho por um distinto orador sagrado que fará o panegírico do Santo.

2ª parte 
13,00 - Entrada no arraial da excelente Banda dos Bombeiros Voluntários de Felgueiras, a qual será recebida pela Freamundense, subindo ao ar atroadora girândola de foguetes.

Banda Bombeiros Voluntários de Felgueiras




15,00 - Início do bazar de prendas, tocando alternadamente nos coretos as duas referidas Bandas.

17,00 - Da Igreja Matriz, e seguindo o itinerário do costume, sairá a tradicional procissão, composta de 7 lindos andores, dezenas de anjinhos bela e ricamente vestidos, coros de meninas, arautos, lanceiros, etc.


3ª parte
Arraial nocturno - Ou seja, o número mais surpreendente e atractivo destas grandes festas, cuja profícua e artística iluminação de muitos milhares de lumes, este ano confiada ao reputado e conhecido artista no género, sr. Constantino Lira,  de Felgueiras, e que ostentará pela primeira vez, em Freamunde, uma iluminação variadíssima e de fino gosto, sobressaindo a do jardim, praça e avenida de S. Francisco ao Alto da Feira; certame pelas já referidas Bandas até às 3 horas da madrugada; continuação do bazar (a comissão de senhoras incumbidas de arranjar prendas, tem recebido algumas de fino gosto e subido valor); descantes populares; muito fogo de artifício pelos conhecidos pirotécnicos de Sobrão (Teles) e de Lustosa (Pontes); aeróstatos.

Balões Venezianos




Altas horas da madrugada - Será corrida uma vaca de fogo.


curiosidades 
No dia 8, durante a tarde, disputou-se uma corrida de bicicletas. O 1º prémio foi em honra dos heroicos aviadores, Gago Coutinho e Sacadura Cabral, entretanto nomeados sócios honorários da Assembleia Freamundense.

Gago Coutinho e Sacadura Cabral




* Plinto - Faixa ou elemento saliente na base de um muro, na base de uma coluna, etc.
* Aeróstato - Todo o aparelho cuja sustentação é assegurada por um gás mais leve que o ar ambiente (balão, dirigível, etc.)
* Descantes populares - Cantigas ao desafio 

terça-feira, 29 de julho de 2025

FESTAS AO MÁRTIR - 1922 - CAPÍTULO XXXII

 



programa 



Capela de S. Francisco


08 de Julho
Alvorada - Estrondosa girândola de foguetes, repique de sinos e morteiros anunciarão o começo das Festas.

12,00 - Nova girândola, repique de sinos, morteiros e os acostumados Zés P'reiras percorrerão as principais ruas da povoação.

14,00 - A reputada Banda Freamundense percorrerá igualmente as principais ruas, indo depois tocar no respectivo coreto, trechos do seu escolhido repertório.

Ao anoitecer - Salva de 21 tiros, girandola de foguetes, morteiros e repique de sinos.



09 de Julho
1ª parte
Alvorada - Repique de sinos, morteiros foguetes e música.

11,00 - Missa solene subindo ao púlpito um distinto orador sagrado.

2ª parte
14,00 - Entrada no arraial da distinta Banda dos Bombeiros Voluntários de Felgueiras, que pela primeira vez tocará nesta povoação.

15,00 - Bazar de prendas, tocando alternadamente nos respectivos coretos as duas distintas Bandas.

17,00 - Da Igreja Matriz, seguindo o trajecto do costume, sairá uma vistosa procissão, composta de 7 lindos andores, muitas dezenas de anjinhos vestidos a capricho, figuras alegóricas, coros de meninas, lanceiros, guiões...


3ª parte
Arraial nocturno - 10.000 lumes, venezianas e à moda do Minho.

Certame pelas mesmas Bandas até às 3,00 horas da madrugada.

Continuação do bazar; descantes populares.

Será queimado um lindo e vistoso fogo de ar e de artifício. 
Aeróstatos.

3,00 da madrugada - Queima de uma bravíssima vaca de fogo.



curiosidades 
No anúncio das Festas, esta referência interessante: Nos dois dias haverá um excelente serviço de hotel e restaurante com bons vinhos e petiscos.

quinta-feira, 17 de julho de 2025

FESTAS AO MÁRTIR - 1924 - CAPÍTULO XXXIV

 



programa 


É indiscritível o enthusiasmo que se nota pelas grandiosas festas de S. Sebastião, que se realizarão na linda e laboriosa povoação de Freamunde, e cujo programa é como se segue:

12 de Julho
Alvorada - Girândola de 21 tiros, foguetes, repique de sinos, repetindo-se tudo isto ao meio dia.

Impávidos e serenos, graciosos e enfatuados Zés P'reiras e gigantones percorrerão as principais ruas da povoação, seguindo-se, no largo da Feira, artisticamente engalanado, a entrada, pela 1 hora da tarde, da excelente  Banda Freamundense que, depois de percorrer o espaço ao som dos seus bem escolhidos passecalles, subirá depois até ao coreto, sob as copadas tílias do mercado, onde tocará harmoniosas  peças do seu vasto repertório.



 


Banda Freamundense


 
Ao anoitecer - Nova salva de 21 tiros, girândola, morteiros e repique de sinos.


13 de Julho
Alvorada - Repique de sinos, morteiros, música, etc.

11,00 - Missa solene a grande instrumental, subindo ao púlpito o distinto orador sacro, reverendo Dr. João Francisco dos Santos, um dos melhores ornamentos da tribuna sagrada, e distinto professor de philosophia no Seminário Episcopal do Porto, que fará o panegírico do Santo.

Entrada na povoação da reputada Banda de Revelhe - Fafe, que tão apreciada e justamente aclamada tem sido em todos os certames a que tem concorrido.

15,00 - Bazar com ricas e valiosas prendas.

As duas Bandas tocarão alternadamente nos respectivos coretos até às 5 horas da tarde.

Diversões desportivas, mastro de cocaque, corridas de sacos, cântaros, galo e velocidade, sendo distribuídos diversos prémios.

Praça num dia de Feira




17,00 - Da Igreja Matriz sairá imponente procissão, composta por 7 magníficos andores, ricamente ornamentados, vários anjinhos, coros de meninas, arautos, guiões, lanceiros, pálio, etc., artisticamente vestidos pela casa Virgílio Marques, da Póvoa do Varzim, percorrendo o itinerário habitual, por entre bandeiras e flores, com que a arte do bem conhecido e consagrado artista senhor Lira, de Felgueiras, fará sobresahir a belleza natural de toda a povoação.

22,00 - Uma fenomenal girândola de foguetes annunciará o começo do grandioso festival nocturno, maravilhoso, surpreendente, deslumbrante, feérico, em que milhares de lumes, caprichosa e artisticamente dispostos, darão um realce extraordinário de belleza e arte pela sua excelente distribuição e magnífico aproveitamento da natureza, para o alcance de tão grande êxito.
Os 10.000 luzes à moda do Minho, a cargo de Constantino Lira, de Felgueiras, tido como um dos melhores artistas da especialidade e que cuidadosamente se tem dedicado a este trabalho de decoração, serão profusamente dispersos por arcarias, mastros, flores, árvores, jardins, grades, aves e animais iluminados. Muito fogo do ar e de artifício. Certame pelas duas distintas Bandas - as melhores desta região -  até altas horas da madrugada.

Continuação do bazar. Descantes populares.

Final da festa - Serão lançados no ar grandes aeróstatos, sendo queimado muito fogo preso e do ar, confeccionado por dois hábeis pyrotecnicos, terminando o festival pela corrida de uma "brava" vaca de fogo.



curiosidades 
Comissão Executiva - Raphael Graça, Júlio Graça e Libório Pinto.

No dia 12 realizou-se importante feira franca de gado bovino, suíno, etc, com distribuição, pelas 3 horas da tarde, de valiosos prémios pecuniários aos expositores de melhor gado e na qual se realizaram, como sempre, importantes transacções commerciaes e industriaes. Variados passatempos. Grande mercado de louças, tamancos, fazendas de lã e de algodão, miudezas, artigos domésticos, fructas, cereaes, aves, etc, etc...

Prémios -  À melhor junta de bois gordos - 50$00; à melhor junta de bois de trabalho - 50$00; à melhor vaca de 1ª cria - 30$00; ao melhor bezerro ou bezerra - 20$00; ao melhor suíno - 25$00; à melhor ninhada de bácoros - 25$00.

terça-feira, 15 de abril de 2025

"TEATRO" EM FREAMUNDE - MAIS DE 100 ANOS DE HISTÓRIAS (7)

 Continuação:


Dr. Alberto Cruz













    Em 1915, a "Troupe Dramática" - cuja orquestra era composta por conceituados músicos da Banda e diversos amadores tocadores de rabecas, rabecões e violões, sob a regência do antigo maestro Augusto Pereira Gomes - dava récitas, agora sob a direcção, Dr. Alberto Cruz (acertava, também, os dedos para a pena), um dos novos republicanos, ainda há pouco (1908) saído dos bancos da universidade para a luta da vida.

    Encenar peças de teatro num grupo de amadores era sempre uma experiência enriquecedora. A estreia aconteceu no dia 14 de Fevereiro. Do programa constavam três hilariantes comédias: "Um Namoro de 90 Anos", em dois actos; "Enredos de Amor" e "Malditas Letras", num só acto. Ainda um chistoso dueto, "Os Medrosos", pelos apreciados amadores José Rego e Maria Amélia Moura.

    A dose iria repetir-se, como habitualmente, no dia 19 de Março, pelas 20,00 hrs, desta feita com as comédias "O Susto de Um Pharmacêutico" (papéis interpretados por Dr. Alberto Cruz, Domingos d'Almeida Caldas, A. Ribeiro, A. Matos, Brasina Pereira Gomes e Arnaldo Cruz) e "As Duas Gatas". Na ficha artística, Brasina Pereira Gomes, Maria Amélia Moura, A. Matos, A. Ribeiro e Joaquim Gomes.

    Numa ou noutra ocasião, cançonetas muito apreciadas: "Que Beleza de Hortaliça", "Ricócó", "Toma Lá Cerejas" e "Se Eu Fosse Rapaz". Ainda o Dueto: "Atribulações d'um Galã" e o diálogo: "A Morte de Dido". Em dois intervalos o Dr. José Coimbra, meritíssimo delegado em Lousada, recitou uma chistosa poesia e o professor primário, Alexandre Osório, uma da sua lavra: "A Mulher".

    Nas temporadas seguintes - para além das "Reisadas", onde a orquestra da "Troupe", regida por Augusto Pereira Gomes, saía nos dias 5 e 6 de Janeiro a dar as boas festas -, teatro só no dia 19 de Março. Os cofres da Associação de Socorros Mútuos  estavam a precisar de "massa" e nada como o auxílio da "Troupe" para fazer face às dificuldades de tesouraria, na fase da denominada "crise das subsistências" que afectou a população do concelho. A fome era uma realidade. Não havia milho, cereal essencial na alimentação do povo, e os assaltos sucediam-se.

    O teatro continuava voltado para a criação de comédias de costumes, onde a anedota prevalecia, buscando situações burlescas, sendo representadas, em 1916, as peças, "Pouca Vergonha", "Calisto Júnior" e "Os Dois Tímidos". Para um público mal preparado não podia haver teatro a valer.

    Porém, na actividade cultural ganhou grande relevo a inauguração de uma excelente Biblioteca, propriedade da referida Associação. A sala de leitura foi enriquecida com cerca de 2.000 livros, oferta do Padre Francisco Peixoto.

    O tempo - ou a incúria? - fez desaparecer grande parte desse espólio.

    Já em 1917, ainda sob a direcção artística do Dr. Alberto Cruz, soaram de novo as "pancadinhas de Moliére", podendo o público interessado apreciar a farsa em 1 acto, "A Macaca de Belchior", e as comédias, também em 1 acto, "Um Noivo de Alcanhões" e "Um Hotel Moderno".


Moliére

    Depreende-se que tanto as obras como os papéis em cena fossem quase sempre bastante pequenos.

    Depois surgiram as causas da Grande Guerra Mundial (1914-1918), enlutando a Europa e ocasionando novos problemas.


(C.E.P.) -  Corpo Expedicionário Português


    A diminuição da população com o surto migratório e o flagelo motivado pela pneumónica, ou epidemia de gripe espanhola, agudizaram o ambiente.


Fase da "gripe espanhola"



    Em 1917, várias situações provocaram a intervenção portuguesa no conflito. Organizou-se um Corpo Expedicionário Português (C.E.P.), vindo a partir para a Flandres francesa, em Fevereiro, os primeiros contingentes.

    Entre os mobilizados do concelho, na qualidade de capitão médico miliciano, encontrava-se o habitual ensaiador, Dr. Alberto Cruz, sendo suspensos os trabalhos da "Troupe" até 1920, cremos, pois não descortinamos em lado algum quaisquer tipo de registos da actividade do Grupo.

    Abrira-se em Portugal uma profunda crise, desconheciam-se os imponderáveis do futuro, nomeadamente a evolução política-social, mal a que se juntou o da inflação causada pela guerra, mas em Freamunde a devoção pelo teatro, pela cultura, não esmorecera, mesmo sendo a actividade teatral nessa altura, no nosso país, bastante desencorajadora e não se vislumbrasse esperança de mudança.

    Eis então que se apresenta, em meados de 1922, Leopoldo Pontes Saraiva, aqui radicado há alguns anos por casamento com Lucinda Oliveira, a quem se reconhecia indiscutível competência como actor, encenador e director artístico, pronto a fazer ressurgir o Grupo, agora denominado "Nova Troupe d'Amadores Dramáticos de Freamunde", já a renovada Tuna Freamundense se mostrava após estreia em Dezembro de 1920.

    Antes, porém, no 19 de Março desse mesmo ano de 1922, dia comemorativo da fundação da ASMF, à falta de "melhor", Arnaldo Cruz, num arrojo de coragem, e para que o teatro se mantivesse vivo, pelo menos lembrado, apresentou em palco um singelo quadro, da autoria de Leopoldo Saraiva, "O Auto das Flores". 

    A chama do amor ao teatro voltava a incendiar a juventude que rodeava o Grupo. Leopoldo Saraiva, consciente das dificuldades a enfrentar para poder cumprir, com um mínimo de dignidade, os objectivos propostos, apresentou - como se pode ler em edição do "Progresso de Paços de Ferreira" - espectáculos que rapidamente atingiram notável popularidade, obtendo, como ensaiador, nas peças de estreia, uma imediata consagração.

    O espectáculo - no dizer do cronista - «possuía uma grande unidade textual não obstante a aparente diversidade das 5 peças escolhidas e representadas no dia 23 de Abril de 1922: "Um Pic-Nic nas Laranjeiras", "Os Fantasmas", "As Novas Ricas", "Os Espectros" e "Taborda no Pombal"»

O Grupo atingia maturidade artística.

Continua:


 

quinta-feira, 12 de dezembro de 2024

"TEATRO" EM FREAMUNDE - MAIS DE 100 ANOS DE HISTÓRIAS (11)

 Continuação:


Associação Socorros Mútuos Freamundense












    Na ASMF, as comemorações do 19 de Março eram sempre vividas de forma efusiva. Dia solene para os freamundenses «sempre ciosos em conservarem os pregões que fortalecem a sua enraizada cor bairrista», assim sublinhou Gil Aires, numa das suas habituais prelecções.

    Sem o Grupo Dramático Freamundense (aproveitaram os empresários do cinema para a passagem de variadíssimas fitas, através do aluguer do salão da Associação), intercalados com os distintíssimos oradores convidados para a sessão solene, faziam-se ouvir em récitas muitas crianças do ensino primário habilmente ensaiadas pelo professorado local, para encanto dos assistentes, hábitos que provinham desde o longínquo ano de 1908, fruto do contributo dos educadores oficiais, D. Mercedes Barros e Alexandre Osório. E assim continuou durante umas décadas.

    Sentia-se, no entanto, um certo vazio. Faltava a "Arte de Talma". Durante uns meses, aí por volta de 1948, ainda se viu qualquer coisa, por iniciativa de Alberto Oliveira, artista de teatro, aqui esporadicamente radicado, que, como referiu posteriormente Fernando Santos, pertencia a uma família de actores itinerantes de que, nos anos 20 e 30, uma ou outra havia em Portugal, como os Rentini. Também os Venâncios, os Oliveiras... (das quais Camilo de Oliveira - Camilo Venâncio de Oliveira, de nome completo - era descendente), e de onde, por vezes saíam nomes que, mais tarde seriam grandes e respeitados no cinema e teatro português, como, Henriqueta Maia, Palmira Bastos, Eunice Munhoz, Leónia Mendes, o próprio Camilo de Oliveira...



Alberto Oliveira


    Alberto Oliveira já era a segunda vez que se fixara em Freamunde,  onde até lhe tinha nascido uma filha que, como os pais, também ao teatro se dedicara. Bom homem, simpático, respeitador...

    Alberto Oliveira tinha ficado em Freamunde, por afastamento voluntário da companhia dos Venâncios, em que se integrava com a mulher e a filha, quando esse grupo por cá tinha passado e feito algumas representações. Instalou-se numa casa que estava devoluta, onde chegou a morar o saudoso Júlio Graça, hoje residência dos herdeiros de "Nequinha" Oliveira.

    Precisando de viver, alugou a "velha" Associação e decidiu representar, entre outras peças, o "Amor de Perdição". Porque o elenco era numeroso, serviu-se de alguns freamundenses em que fervilhava o viciozinho do palco, que, felizmente, por cá sempre houve - Alberto Graça, que defendeu o papel de "Primo Baltazar", Ernesto Leal, "O Meirinho"...

    O industrial António Pereira da Costa, figura preeminente, de forte carácter e decisão, insistia que o teatro continuava a ter muito para dar aos seus conterrâneos, para lhes enriquecer a vida.

    A cultura sempre é a alma de um povo. E o teatro é uma das manifestações mais puras da arte e da expressão humana. As próprias representações originavam receitas que muito jeito faziam aos cofres da benemérita Associação. Juntava-se assim o útil ao agradável.


António Pereira da Costa

    Vai daí - conforme descreveu, a certa altura, Fernando Santos -, «...certo dia (em princípios de 1949), um senhor de fartos bigodes apareceu no Porto a contratar um grupo de amadores que eu dirigia para um espectáculo em Freamunde, a favor da ASMF. Representámos a peça "Duas Causas", de Mário Duarte... A récita agradou e novo contrato surgiu. E outro... E outros...

    O certo é que cá fiquei (conheci uma jovem chamada Brazinda e três meses mais tarde - 12 de Junho de 1949 - António Pereira da Costa era meu sogro) e, comigo, o viciozinho pelas tábuas do palco, semente teimosa e atrevida que, afinal, vinha encontrar fértil terreno para a sua reprodução, bem lavrado e adubado por esse inesquecível cultivador da cena freamundense que se chamou Leopoldo Pontes Saraiva. E foi logo uma incansável e alegre batuta na produção de espectáculos de beneficência: "Tem Calma Pacheco", comédia da minha autoria (Durante muito tempo houve quem continuasse a chamar-me senhor Pacheco): "O Crime de Uma Mulher Honesta" (autor italiano), "Bocácio na Rua", "Irene", "A Raínha Cláudia", "A Flor da Aldeia", "Traviata", "Intrigas no Bairro", "Cama, Mesa e Roupa Lavada" (Coroa de glória do grande actor Chaby Pinheiro, no impagável "papel" de "AArão Saavedra"), numa récita de homenagem ao falecido dr. Alberto Cruz, sob a batuta de Fernando Santos e com a interpretação de entre outros, Fernando Santos, Joselino Pereira, José Maria Moura, Carlos Correia da Fonseca "Moca", Maria Amélia Pereira, Maria José "Cravadeira"...).





"BOCÁCIO NA RUA"
Alberto Graça, Fernando Santos e Alberto Matos
"Sem tardar/Firu-Li-Ru-Li/Firu-Li-Lu-Lero"




"RAÍNHA CLÁUDIA"
Joaquina Afonso e Fernando Santos




"RAÍNHA CLÁUDIA"
Fernando Santos e Alberto Matos





"BOCÁCIO NA RUA"
Fernanda Felgueiras e José Maria Moura

 



" A FLOR DA ALDEIA"
Esmeraldina Rego, Albertina Antunes,
Fernanda Felgueiras e Joaquina Afonso





"RAÍNHA CLÁUDIA"
Alberto Graça e Fernanda Felgueiras







"RAÍNHA CLÁUDIA"
Américo Santos, Nelson Lopes, Carlos Felgueiras,
 Fernando Santos, Alberto Graça, Armando Nunes "Alhinho"
 e António Castro Nogueira



    Até  uma revista,  por mim propositadamente escrita: "Freamunde é Coisa Boa"»

    Revista, apresentada no dia de Natal de 1951, que se destacou tal a popularidade que abrangeu. Era bonita, estouvada, alegre.

    A Revista era ainda um meio de sacudir os espíritos calados e iluminá-los de riso.








    Todas estas peças, atrás referidas, acabaram por transformar gente anónima em primeiras figuras. "Artistas" do agora denominado "Grupo Cénico da Associação de Socorros Mútuos Freamundense".

    O êxito, mais que a capacidade criativa do autor, ficou a dever-se à fantasia dos actores.

    Fernando Santos, José Gomes Rego, Alberto Matos, José Maria Moura, Alberto Graça, Fernanda Felgueiras, Nelson Lopes..., já eram possuidores, mesmo sem grande experiência e técnica indispensável, da capacidade de exteriorização a que vulgarmente se chama talento.

    Actores, como outros tantos, que se revelaram indispensáveis e tiveram a hipótese de trabalhar papéis variados e subtis.

    Depois, havia também Adriano Guimarães, antigo e considerado actor, natural da cidade do Porto, onde nasceu na Rua Alexandre Braga, filho de Domingos da Silva e Ana Rita de Sousa. O teatro o trouxe com Fernando Santos para Freamunde, «acompanhado, como sempre, da sua velha "caixa de caracterização - constante objecto dos seus cuidados -, escrínio de antigos, ensebados e utilizados "postiços"».

     Freamunde, que passou a considerar como sua Terra e onde viria, em 19 de Fevereiro de 1971, com 82 anos, a ser sepultado.


Adriano Guimarães




    Porém, Fernando Santos cansou! Ele próprio não soube bem porquê mas cansou (seria bem assim?!)... e o teatro parou por 10 anos!... de 1954 a 1963.

    Em 1961 ainda vingou o teatro infantil, dirigido pelas professoras Cremilde Queirós Monteiro e Maria José Machado Pereira - sem esquecermos, noutras fases, Ludgera Oliveira, Rita Barros da Silva, Cesaltina Gonçalves, Alda Nunes..., com o apoio de Fernando Santos.

    Teatro para crianças - a quem os próprios adultos dispensaram especial atenção e entusiasmo -, feito por crianças, com miúdos das escolas de Freamunde.

    Como dizia Fernando Santos, «...estas peças fantasiadas - "Maria Migalha", por exemplo -, por vezes ingénuas e incipientes, são um importante meio educacional e uma boa oportunidade para descobrir futuros valores».




 




"MARIA MIGALHA"

 

"MARIA MIGALHA"


"MARIA MIGALHA"


"MARIA MIGALHA"


    Contudo, algo mais que estes preparativos agitava o agregado populacional. Algo mais estava para suceder.

    O nosso povo, que tinha mais letras do que se julgava, lembrava-se das Revistas e sentia saudades delas.

    Os constantes apelos do enorme bairrista, Maximino Ferreira Rego, acicatado por Nelson Lopes, junto de Fernando Santos, nas noites do "Recreativo", porque não percebia o que o tinha levado a interromper as actividades teatrais, foram tão convincentes que conseguiram despertar o seu orgulho, "nascendo" a opereta "Gandarela", baseada em acontecimentos históricos e reais, aos quais o encenador entendeu dar um cunho pessoal e "criativo", de factos ou situações da actualidade com comentários cáusticos e picantes à base de trocadilhos de palavras com sentido duplo.

    Em 22 de Dezembro de 1963, o "Grupo Teatral Freamundense" dava a sua primeira representação.








 

    Assim recriou-se uma actividade de envolvimento e movimentação de "massas", de uma colectividade, de um movimento cultural que tem dignificado o teatro amador e contribuído, de uma forma inestimável, para o prestígio da nossa Terra.

    Houve colaboração e dedicação de dezenas de pessoas afastadas do meio artístico. De forma apaixonada, porque o teatro não era modo de vida.

    Recomeçou uma actividade teatral que se iria tornar verdadeiramente gloriosa, pontuada por inúmeros prémios e galardões e que projectaria o nome de Freamunde por todo o país e além fronteiras.

Continua: