Festas Sebastianas
Se quiséssemos buscar no tempo a origem e as forças desta tradição, perder-nos-íamos em demanda daquilo que o passado jamais nos diria. Quando e porquê, Freamunde começou a festejar o heróico Mártir Romano, é um segredo que as gerações longínquas que nesta terra nasceram e aqui deram os seus filhos e as suas vidas, guardaram inviolavelmente. Elas são as raízes profundas desta tradição que agora está tão viva como no tempo que lhe assistiu ao nascimento. Fidelidade ao passado ou apego ao protector do povo face aos maiores flagelos que o amofinam? S. Sebastião é patrono nas situações de fome, peste e guerra e enquanto prevalecerem neste mundo estas calamidades, talvez o passado e o presente se interliguem na invocação do Santo e nas homenagens populares.
Freamunde, terra de gente moldada no trabalho e nas asperezas da vida, habituada por nascimento às dificuldades da conquista do pão no dia-a-dia, arranca gostosamente ao seu orçamento as avultadas somas que permitem a realização das suas Festas Sebastianas, insígnia que não sendo talhada em pedra ou fundida em ouro, representa melhor que esses artifícios balofos a força de uma vontade que barreira alguma poderá deter. O povo de Freamunde ama as suas Festas: elas são o maior meio que lhes permite confraternizar com o povo doutras terras, sentir em sua casa a presença quente e amiga de gente que pretende romper com isolamentos acabrunhantes e conviver abertamente em permutas de matizado sentimento humano. Tu, homem e mulher simples, tu, jovem que possuis vida exuberante e o fogo purificador da raça, e até tu, velhinho que carregas anos e sabedoria, todos vós sois nossos convidados nos próximos dias 10-11-12 de Julho (Excepção feita aos carrancudos crónicos e brigões por motivos óbvios).
Quando chegares cá, terás o que de melhor o nosso esforço e amizade conseguiram. Sentimos uma imensa alegria em te oferecer estas Festas, a nossa terra, a nossa hospitalidade. Estaremos à tua espera. Bem-vindo a Freamunde.
A Comissão
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| Cartaz de 1976 |
Programa
10 de Julho
07,00 - Alvorada Com estrondoso fogo. Um grupo de Zés P'reiras, Gigantones e Cabeçudos anunciarão o começo das Festas, percorrendo as ruas da vila já então ornamentadas por Fernando Lira, de Felgueiras.
21,30 - Grandioso espectáculo com a consagrada artista Amália Rodrigues.
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| Amália Rodrigues |
Durante o espectáculo funcionará um serviço de bar (caldo verde, sardinha assada, bebidas, etc.)
No fim do espectáculo será queimada uma bravíssima Vaca de Fogo.
11 de Julho
07,00 - Alvorada com estrondoso fogo.
09,00 - Entrada da Banda Marcial de Freamunde.
11,00 - Missa Solene com Sermão.
15,00 - Entrada da Banda de Música da Trofa.
16,00 - Concerto pelas referidas Bandas.
17,00 - Entrada da prestigiosa Fanfarra do Asilo do Terço.
18,00 - Saída da majestosa e tradicional Procissão de S. Sebastião.
21,00 - Início do arraial nocturno com feéricas iluminações.
22,00 - Concertos musicais pelas já referidas Bandas.
24,00 - Começará a ser lançado em profusão o Fogo de Artifício e Fogo Preso.
Encerram as Festas deste dia com uma bravíssima Vaca de Fogo.
12 de Julho
Durante a tarde vários divertimentos culturais e recreativos, entre os quais concertos por duas Bandas Militares.
21,00 - Grande Festival Folclórico pelos seguintes Ranchos: «Rancho Folclórico de Baião», «Rancho Típico de S. Mamede de Infesta», «Rancho Regional de Paredes», «Rancho Regional Divino Espírito Santo» e «Rancho Regional de Nespereira - Lousada».
24,00 - Desfile do grandioso e afamado Cortejo Luminoso e Alegórico no qual se incorporarão os Ranchos Folclóricos, um numeroso grupo de Zés P'reiras, conjuntos musicais e infantis de diversos significados e muitos e maravilhosos carros alegóricos e publicitários.
02,00 - Duas grandes sessões de Fogo de Artifício.
As Festas encerrarão com uma furiosa Vaca de Fogo.
curiosidades
Comissão Executiva - Agostinho Moreira Nogueira, António Carlos Sousa Leão, António Dias Brito, António Dias Pereira, António Fernando Gomes Neto, António Ribeiro Costa Machado, Fernando Pinheiro, José Augusto Nogueira Machado, José Casimiro Carneiro Peixoto, José Maria Pacheco Sousa, Jorge Fernando Lopes Ribeiro e Manuel Cunha Ferreira.
"Uma para todos e todos por uma", o lema da comissão que não nomeou presidente.
Custo global das Festas - 850 contos, aproximadamente.
Iluminação - 85.000$00
Bandas de Música (Freamunde e Trofa) - 36.000$00, cada.
Factos mais relevantes
Marcha Alegórica - 4 carros de Francisco de Abreu Lobo, de Felgueiras, incluindo aluguer de Gigantones, Cabeçudos e 50 bonecos iluminados: 30.000$00.
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| Cortejo Alegórico Contrato entre Francisco de Abreu Lobo e a comissão |
Para além de alguns carros executados por jovens afectos a vários movimentos políticos (PCP, PS, PPD...), que, fruto das "rivalidades", despertaram um interesse fora do comum, apresentaram-se mais alguns, de fantasia, construídos fora de portas: "Caravela Pirata", "Carros dos Pavões", "Roda Monumental", "Vat Dionei"...
Zés P'reiras de S. Estevão de Vilela - 4.000$00.
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| Contrato entre o Grupo de Zés P'reiras de Vilela e a comissão. |
Lançado sorteio de 1 Máquina de Barbear e 1 Relógio de pulso.
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| Bilhete de Sorteio |
Artistas convidados para espectáculos de Variedades durante o ano (muitos e de renome na panorâmica musical portuguesa): Gabriel Cardoso; José Cid e os Green Windows, à frente de um elenco composto por Mary Faty, José Carlos, Sãozita, José Paul e Trio Boreal; Fernando Tordo (faziam furor as canções "Cavalo à Solta" e "Tourada", por todos trauteadas); e Paulo de Carvalho (deu voz à canção "Depois do Adeus", vencedora do XI Grande Prémio TV da Canção, em 7-3-1974 - esta melodia viria a fazer parte da História de Portugal ao ser escolhida como a primeira senha para o arranque do Movimento dos Capitães que em 25 de Abril desse ano devolveu a liberdade e a democracia aos portugueses.
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| Gabriel Cardoso |
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| José Cid |
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| Fernando Tordo |
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| Paulo Carvalho |
O Festival de Variedades de Sábado de Festas, com Amália Rodrigues como cabeça de cartaz, atraiu à Praça do Mercado um "mundo" de gente. Foi um concerto inolvidável, da diva do fado.
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| Amália Rodrigues |
Fogo Preso - "Ataque ao Castelo de Avião", de fantástico e surpreendente efeito.
Todas as crianças nascidas nesse ano foram consideradas mordomas. Os pais lá tiveram que "desembolsar" um contito, por cabeça.
A comissão voltou a práticas antigas, procedendo à colocação de flor na lapela.
No peditório de Sábado, 2 grupos de bombos foram distribuídos por toda a vila e freguesias limítrofes.
Iluminação - A Câmara Municipal e a EDP não corresponderam afirmativamente aos pedidos da comissão. Parte do material necessário foi emprestado pelas autarquias de Lousada e Paredes.
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